Célia: ...fico chocada cada vez que tenho notícias de policiais envolvidos com o crime. Tenho consciência que a questão é mais complexa do que parece, mas fico pensando no "senso comum", como ver a polícia com bons olhos? Como acreditar que existem bons policiais, aqueles que cumprem seu papel de verdade?
Célia, cabe a nós - através do debate e da reflexão - pontuarmos os problemas sociais de forma isenta, corajosa e contundente, apontando equívocos e más intenções, desanuviando o cenário obscuro que só interessa a uma pequena e gananciosa parcela que se beneficia disso, para podermos exigir mudanças e correções, que equilibrem um pouco nossa iníqua sociedade. Tudo é reportado, catalogado e narrado de uma forma superficial, que não vai além da epiderme, deixando inerte o corpo social, enquanto as artérias por onde passam as riquezas do país são sugadas avidamente. Um ótimo sinal de que essa estrutura desleal montada para "traduzir" mazelas sociais, que deságua nas notícias dos veículos de comunicação, com suas versões em série para dramas diversos pode ser questionada; é a sua indignação e dúvida quando diz ter ficado chocada com as reportagens sobre policiais envolvidos com crimes. E como esse espaço não se propõe a maquiar, e sim ajudar a desconstruir hipocrisias que mantém a sociedade brasileira nesse vergonhoso estado de estagnação, eis o que posso acrescentar ao debate.
A cultura sob a qual a Polícia Civil se estruturou, é a mesma em que todos os outros órgãos públicos do país se criaram e se estabeleceram, ou seja, do capitalismo imposto como sistema econômico, adaptado e incorporado pela nossa herança como colônia de exploração, redundando numa "filosofia de vida" onde quanto mais você possui e ostenta, mais você é respeitado como cidadão e faz valer os seus direitos. A polícia é o tentáculo da formação do Estado para o qual foi delegado poderes de utilização de força, de contenção, de mais proximidade com os conflitos cotidianos, em todas as camadas sociais. E à Polícia Civil coube a designação de dissimular-se no corpo social, sem protocolos, de forma não ostensiva, para melhor apurar autorias de eventuais delitos contra a legislação penal, no seu papel de "polícia judiciária", conforme sua incumbência oficial. Inicialmente, muito poder foi delegado a essa instituição, que tinha o dever legal de autorizar coisas banais como a instalação de um circo ou parque em uma cidade, ou a emissão de atestado de pobreza a um cidadão, até o extremo da aprovação a um mandado de busca ou prisão. Com o "sacolejar da carruagem" a estrutura estatal foi adaptando-se e os "poderes" foram sendo melhor distribuídos. Fato relevante também, foi o papel a que a polícia civil se prestou, postulando-se ao lado da ditadura, legitimando as ações ilegais dos militares, na época do regime de exceção, herdando inconseqüentemente essa herança macabra. O saldo de tudo isso, resulta no que ficou instituído no imaginário popular: o medo e a figura negativa das instituições policiais, e o quinhão que coube peculiarmente à polícia civil, foi a pecha de desonesta e corrupta. Porém, para discutir o assunto com isenção, esqueça o espetáculo da superexposição de policiais sendo presos, os prejulgamentos televisivos, a necessidade do enquadramento de pessoas no time do bem ou do mal; faça sua própria reflexão. O que deve ser exaustivamente combatido é a "verdade socialmente construída" de que se o indivíduo não tripudiar e "passar seu semelhante para trás", não será reconhecido como cidadão e não usufruirá das benesses a que somente os endinheirados têm acesso. Urge demonstrar que não corrompendo ainda mais nosso meio social é possível reverter recursos para a melhoria de nossas (base da pirâmide) vidas. É imprescindível discutirmos de forma veemente, mas sem hipocrisias (como bradam os que se pretendem "santos canonizados" de calça jeans e eternas camisas brancas), o por que das instituições oficiais e dos nossos representantes serem tão desacreditados pela população, detectando verdadeiramente soluções cotidianas. É explicitar, na prática e sem discursos circulares, que é mais salutar e recompensador optar por não se corromper. É investir maciçamente em informação e cultura para todos nós e "jogarmos o jogo instituído", buscando uma maneira de fiscalizar de muito perto as ações de todos os funcionários públicos (do Presidente da República aos professores do município). Retornando ao caso específico dos policiais sendo presos, mas não perdendo de vista o que foi dito acima, na polícia - como em toda a sociedade - não existem vestais, todos os integrantes sabem "quem é quem", ou quem não resiste ao "canto da sereia". Não pretendendo julgar ninguém, mas mesmo ressaltando sempre que, segundo a Constituição Federal, um indivíduo só será considerado culpado quando transitar em julgado sua sentença penal condenatória, não é difícil constatar ou identificar quem faz mal uso da função pública (...quando nem os sinais exteriores de riqueza são tomados como o início de prova, lembrando Rui Barbosa, chega-se a vergonha da honestidade mantida). Porém, essa constatação nada condiz com o espetáculo pérfido transmitido pela imprensa, e a parte profundamente responsável pela deterioração da "coisa pública" continua escondida, e bem protegida, pelos discursos demagógicos, e pelo meteórico poder aquisitivo conquistado. E a raiz do problema, segue sem sequer ser arranhada. Também é pertinente destacar que ao contrário do que possam sugerir as matérias jornalísticas que apartam e execram o servidor investigado, seja ele culpado ou não, a maioria dos integrantes dessa instituição, desaprovam tais atitudes ilícitas, e - malquerenças e maledicências à parte - conservam um resquício de orgulho em pertencerem ao quadro policial. Os integrantes da carreira policial quase sempre vêm do mesmo extrato social dos delinqüentes catalogados pelo estado, e exercem sua função na contenção desse mesmo extrato social. Nas filas de inscrição para os concursos das carreiras policiais, durante as rodas de conversa, constata-se que os postulantes já carregam um pré conceito negativo do universo ao qual pretendem ingressar. Os que conseguirem a aprovação, trarão seu preconceito da instituição, adicionando ao mesmo o pseudo poder que julgarão portar, "combatendo o crime" inconscientemente apenas no meio social de onde advieram, completando o círculo do erro total, a serviço do poder usurpador de cima para baixo, que manipula e estimula iguais em posições desfavorecidas a agredirem-se reciprocamente.
Concluindo a resposta ao seu questionamento, veja todas as instituições - não só a polícia - da melhor maneira possível: com olhos de cidadã, olhos atentos, e ajude a reverter para o "público", o que interesses escusos usurparam para o "privado". Afinal, a Delegacia de Polícia, os Palácios de Justiça, as Câmaras Legislativas, os Paços do Executivo, os hospitais públicos, os prédios do INSS, as escolas públicas; são seus e de todos nós, e o acesso a esses espaços que a representam na tarefa de tornar nossa convivência social harmônica, são livres, apesar da blindagem corporativista e dos humores instáveis de seus empregados públicos. Quanto aos ocupantes de cargos policiais, esses estão vulneráveis à tentação e capitulação frente ao implacável mundo do consumo e da ostentação; à execração pública da indústria do espetáculo e seus pré-julgamentos; às armadilhas de exercer sua função lidando diariamente com vilanias e ardis, cabendo a cada um, particularmente, optar pelas escolhas condizentes com sua formação e pretensão social. Um abraço!
Célia, cabe a nós - através do debate e da reflexão - pontuarmos os problemas sociais de forma isenta, corajosa e contundente, apontando equívocos e más intenções, desanuviando o cenário obscuro que só interessa a uma pequena e gananciosa parcela que se beneficia disso, para podermos exigir mudanças e correções, que equilibrem um pouco nossa iníqua sociedade. Tudo é reportado, catalogado e narrado de uma forma superficial, que não vai além da epiderme, deixando inerte o corpo social, enquanto as artérias por onde passam as riquezas do país são sugadas avidamente. Um ótimo sinal de que essa estrutura desleal montada para "traduzir" mazelas sociais, que deságua nas notícias dos veículos de comunicação, com suas versões em série para dramas diversos pode ser questionada; é a sua indignação e dúvida quando diz ter ficado chocada com as reportagens sobre policiais envolvidos com crimes. E como esse espaço não se propõe a maquiar, e sim ajudar a desconstruir hipocrisias que mantém a sociedade brasileira nesse vergonhoso estado de estagnação, eis o que posso acrescentar ao debate.
A cultura sob a qual a Polícia Civil se estruturou, é a mesma em que todos os outros órgãos públicos do país se criaram e se estabeleceram, ou seja, do capitalismo imposto como sistema econômico, adaptado e incorporado pela nossa herança como colônia de exploração, redundando numa "filosofia de vida" onde quanto mais você possui e ostenta, mais você é respeitado como cidadão e faz valer os seus direitos. A polícia é o tentáculo da formação do Estado para o qual foi delegado poderes de utilização de força, de contenção, de mais proximidade com os conflitos cotidianos, em todas as camadas sociais. E à Polícia Civil coube a designação de dissimular-se no corpo social, sem protocolos, de forma não ostensiva, para melhor apurar autorias de eventuais delitos contra a legislação penal, no seu papel de "polícia judiciária", conforme sua incumbência oficial. Inicialmente, muito poder foi delegado a essa instituição, que tinha o dever legal de autorizar coisas banais como a instalação de um circo ou parque em uma cidade, ou a emissão de atestado de pobreza a um cidadão, até o extremo da aprovação a um mandado de busca ou prisão. Com o "sacolejar da carruagem" a estrutura estatal foi adaptando-se e os "poderes" foram sendo melhor distribuídos. Fato relevante também, foi o papel a que a polícia civil se prestou, postulando-se ao lado da ditadura, legitimando as ações ilegais dos militares, na época do regime de exceção, herdando inconseqüentemente essa herança macabra. O saldo de tudo isso, resulta no que ficou instituído no imaginário popular: o medo e a figura negativa das instituições policiais, e o quinhão que coube peculiarmente à polícia civil, foi a pecha de desonesta e corrupta. Porém, para discutir o assunto com isenção, esqueça o espetáculo da superexposição de policiais sendo presos, os prejulgamentos televisivos, a necessidade do enquadramento de pessoas no time do bem ou do mal; faça sua própria reflexão. O que deve ser exaustivamente combatido é a "verdade socialmente construída" de que se o indivíduo não tripudiar e "passar seu semelhante para trás", não será reconhecido como cidadão e não usufruirá das benesses a que somente os endinheirados têm acesso. Urge demonstrar que não corrompendo ainda mais nosso meio social é possível reverter recursos para a melhoria de nossas (base da pirâmide) vidas. É imprescindível discutirmos de forma veemente, mas sem hipocrisias (como bradam os que se pretendem "santos canonizados" de calça jeans e eternas camisas brancas), o por que das instituições oficiais e dos nossos representantes serem tão desacreditados pela população, detectando verdadeiramente soluções cotidianas. É explicitar, na prática e sem discursos circulares, que é mais salutar e recompensador optar por não se corromper. É investir maciçamente em informação e cultura para todos nós e "jogarmos o jogo instituído", buscando uma maneira de fiscalizar de muito perto as ações de todos os funcionários públicos (do Presidente da República aos professores do município). Retornando ao caso específico dos policiais sendo presos, mas não perdendo de vista o que foi dito acima, na polícia - como em toda a sociedade - não existem vestais, todos os integrantes sabem "quem é quem", ou quem não resiste ao "canto da sereia". Não pretendendo julgar ninguém, mas mesmo ressaltando sempre que, segundo a Constituição Federal, um indivíduo só será considerado culpado quando transitar em julgado sua sentença penal condenatória, não é difícil constatar ou identificar quem faz mal uso da função pública (...quando nem os sinais exteriores de riqueza são tomados como o início de prova, lembrando Rui Barbosa, chega-se a vergonha da honestidade mantida). Porém, essa constatação nada condiz com o espetáculo pérfido transmitido pela imprensa, e a parte profundamente responsável pela deterioração da "coisa pública" continua escondida, e bem protegida, pelos discursos demagógicos, e pelo meteórico poder aquisitivo conquistado. E a raiz do problema, segue sem sequer ser arranhada. Também é pertinente destacar que ao contrário do que possam sugerir as matérias jornalísticas que apartam e execram o servidor investigado, seja ele culpado ou não, a maioria dos integrantes dessa instituição, desaprovam tais atitudes ilícitas, e - malquerenças e maledicências à parte - conservam um resquício de orgulho em pertencerem ao quadro policial. Os integrantes da carreira policial quase sempre vêm do mesmo extrato social dos delinqüentes catalogados pelo estado, e exercem sua função na contenção desse mesmo extrato social. Nas filas de inscrição para os concursos das carreiras policiais, durante as rodas de conversa, constata-se que os postulantes já carregam um pré conceito negativo do universo ao qual pretendem ingressar. Os que conseguirem a aprovação, trarão seu preconceito da instituição, adicionando ao mesmo o pseudo poder que julgarão portar, "combatendo o crime" inconscientemente apenas no meio social de onde advieram, completando o círculo do erro total, a serviço do poder usurpador de cima para baixo, que manipula e estimula iguais em posições desfavorecidas a agredirem-se reciprocamente.
Concluindo a resposta ao seu questionamento, veja todas as instituições - não só a polícia - da melhor maneira possível: com olhos de cidadã, olhos atentos, e ajude a reverter para o "público", o que interesses escusos usurparam para o "privado". Afinal, a Delegacia de Polícia, os Palácios de Justiça, as Câmaras Legislativas, os Paços do Executivo, os hospitais públicos, os prédios do INSS, as escolas públicas; são seus e de todos nós, e o acesso a esses espaços que a representam na tarefa de tornar nossa convivência social harmônica, são livres, apesar da blindagem corporativista e dos humores instáveis de seus empregados públicos. Quanto aos ocupantes de cargos policiais, esses estão vulneráveis à tentação e capitulação frente ao implacável mundo do consumo e da ostentação; à execração pública da indústria do espetáculo e seus pré-julgamentos; às armadilhas de exercer sua função lidando diariamente com vilanias e ardis, cabendo a cada um, particularmente, optar pelas escolhas condizentes com sua formação e pretensão social. Um abraço!
Em tempo: às vezes somos ludibriados pela vida e achamos que a dor da morte, da prisão, da separação, são ácidas e agudas. Ledo engano, hoje tenho a dimensão da dilaceração do espírito e da alma. Doem todas as equinas do meu ser, e de alguma maneira, rebaixo-me junto ao meu querido Sport Club Corinthians Paulista, para todas as sub-divisões que a vida nos colocar. Tu és forte, tu és grande, dentre os grande, és o primeiro. Força Corinthians! Todo poderoso Timão!
3 comentários:
Bom dia Djalma!
Que bom encontrar esse blog, fortifica minhas esperanças em melhorar um pouco essa sociedde.
Fui PM, caí no Romão qdo tinha 20 anos e saí de lá com 25. Achava que tudo tinha acabado pra mim, sem estudo, sem família, sem emprego... Comecei a beber e me jogar em tudo de pior que a sociedade reserva para aqueles que não "produzem" portanto não consomem e não ostentam como vc observa muito bewm no seu artigo. Não escrevi nenhum livro porque não tinha preparo para isso, mas o que eu vi e vivi naquele inferno...
Irmão consegui me levantar, fiz faculdade de História hoje sou professor da rede pública e faço trabalhos na periferia pra depertar a consciência político-social da molecada e posso te dizer, hoje sou feliz!
Força porque vc muitas vezes vai pensar em desisitir, deixar tudo para lá. Vai ter a sensação de que está pregando no deserto, mas não está prova disso é que eu (e tantos outros) estou lendo seu blog e refletindo sobre suas palavras. Vou recomendá-lo aos meus alunos.
Eu conheci o inferno e sobrevivi, vc vai conseguir!
Grande abraço irmão!
Compatilho a dor e a esperança no Timão!
Ainda não terminei o livro, mas graças a vc não desisti...
E aí meu amigo cansou-se da outra face?
Sei que às vezes a estrada parece
longa demais e que já não vale a pena caminhar à esmo, mas é justamente quando estamos nos aproximando de nosso destino tão esperado que essa sensação nos atropela.
Cara volte à carga, siga, teu momento há de chegar, continue semeando.
Grande abraço...
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