
Uma discussão que ocorre por esses dias entre o Governo Federal e as principais Centrais Sindicais à respeito do seguro-desemprego, chama minha atenção pelo grau de cidadania (ou pela falta dela) em nossos dias, e como, às vezes, nos igualamos a quem tanto criticamos. As partes acima mencionadas pretendem elevar das atuais cinco para doze as parcelas a serem pagas a quem estiver desempregado. Porém, o Ministério da Fazenda, cumprindo com sua obrigação desanconselhou tal empreitada, alegando que o fundo que sustenta o seguro-desemprego deve apresentar déficit nos próximos anos, mesmo se mantidas as parcelas atuais. Ou seja - assim como a Previdência, esse serviço social também corre o risco de entrar em colapso futuramente. Recordamos com facilidade os tantos "assaltos" aos cofres da previdência, com seus "esquemas", "fantasmas", "Georginas" e tantos outros, e também do dinheiro imediato oferecido pelos governos quando instituições bancárias necessitam serem "salvas". Mas, surpreendentemente, quando trata-se de socorrer o trabalhador, os órgãos financeiros e econômicos cumprem seu papel de evitar um desajuste (muitas vezes motivados por fins eleitoreiros). Mas, por que razâo se omitem quando trata-se de evitar a quebra de um banco ou qualquer outra instituição econômica? Ou são silenciados à força pelo sempre coercitivo poder político, sempre altivo, poderoso, impune e livre de explicações pláusíveis. De certo, surgirão infindáveis explicações acadêmicas para os argumentos deste humilde blogueiro, mas - do alto de minha impaciência - darei as costas a todas elas. Se são tão sapientes em elucidar os nós da "coisa pública", resolvam essa equação para nós "coisas também públicas". Quanto custa pegar um ônibus, metrô, trem todos os dias para procurar trabalho; quanto tempo uma sola de sapato conserva se você o fizer à pé; e uma refeição entre uma procura e outra; e um curso de especialização; cópias de documentos; pagamentos para que seu curriculum fique por um tempo nos cadastros das agências de emprego; no aperitivo que você tomará para poder encarar sua família e mentir que está quase acertado em um emprego; na calça e camisa da promoção para parecer "apresentável ao novo empregador; etc? Nunca fui de "acender uma vela à Deus e outra ao Diabo", por isso, critico sempre qualquer conhecido que protela a entrega de sua Carteira de Trabalho" ao novo empregador, porque pretende receber as parcelas do seguro-desemprego (agregadas ao novo salário) mesmo estando empregado. Isso é falta de cidadania, e se igualar da mesma forma a quem te governa e privilegia os abastados em detrimento dos necessitados. Você que utiliza esta prática, não está levando nenhuma vantagem, pelo contrário, apenas enganando a si mesmo, porque o buraco meu irmão, é muito lá em cima. Um abraço!
16 comentários:
Vejo que começou com o mesmo talento e acuidade de sempre. Djlma meu filho, permita-me uma observação (ou seria um pedido movido pela curiosidade); acompanhando os trechos de seu livro pergunto-me como foi sua infância, adolescência. Quem são (eram?) seus pais? tem irmãos? Filhos? Brinde-nos com sua história de vida para que possamos compreender melhor sua trajetória, seu livro, sua luta, sua essência. Deus te abençõe.
Cidadania nesse país parece ser algo apenas para os papéis meu amigo. Belo post!
Professora Carla, às vezes chego a acreditar na tal "conspiração do universo". Porque esse comentário chega-me em um momento de total conflito sobre essas questões. A história de minha família é muito bonita e transparente, no entanto, atravesso uma enorme dificuldade em lidar com isso. Talvez porque sentimentos estranhos anuviam minha alma, e pessoas que só fizeram parte de minha estória recentemente dividem comigo os dias atuais. Desentendimentos apartaram meus familiares de meus problemas e sofrimentos, e de certa forma de sinto aliviado. Gosto muito de um filme americano (Sons and Fathers), traduzido em algo como "Coisas de família", que trata de rancores, decepções e mágoas recorrentes entre consanguínios, e no final do filme, um velho, triste e perturbardo pai, diz uma frase pontual: "A vida de um homem, é culpa dele mesmo". Perante a sociedade, não sinto nenhum remorso ou culpa, pelo contrário, mas familiarmente, penso enlouquecidamente em formar meus filhos cidadãos, sem querer nada em troca, nem mesmo reconhecimento. Obrigado pela oportunidade de falar sobre essas coisas, você deve ser uma pessoa muito sensível. Compromete-me a postar esporadicamente sobre minha vida pessoal, me fará um bem enorme! Um abraço.
Carlos, gosto muito de um dos significados que dão para a palavra "Pátria": ..."o lugar onde nos sentimos bem." Mas em matéria de cidadania me sinto um pária, muito à margem da sociedade. Um abraço.
Salve irmão!
Falei recentemente com meus alunos (todos da periferia) sobre cidadania e discutimos muito essa história de centro e perferia das coisas e indivíduos. Seria mesmo você um pária? Em relação a que? a quem? a que sociedade, valores ou conceitos? Não soa um pouco paradoxal irmão? Siga na luta!
Em primeiro lugar parabéns pelos posts. Assisti ao filme "coisas de família" e Djalma me parece que as pessoas fazem suas escolhas, mas o mais importante me perece ser o fato da oportunidade de refazê-las, talvez não seja o mais fácil, mas com certeza o fundamental. Às vezes vc passa a impressão de que ainda está lá na Zarqui Narqui.
Abraços
Róbson, entendo o que você diz como uma espécie de sentimento de "forjar sua cidadania", no lugar onde você mora, valorizando seu meio, aculturando seu semelhante, mesmo com o descaso estatal. E acho que você tem toda razão! Porém, o Estado existe e o sistema nos engole. Recentemente fui a Piraporinha participar de um debate, e acompanho a única revolução em que ainda acredito - a cultural que está acontecendo na periferia de São Paulo, o que me dá enorme satisfação. Mas irmão, aqui onde moro não está acontecendo nada nesse sentido, e pareço sem forças, as palavras não encontram reflexo, a apatia toma conta, é uma luta insana. Me sinto um pária no sentido de "não pertencer", perante as enormes futilidades sociais e descaso estatal. Em uma fase de minha vida, a gente lutava contra o Leviatã e acreditava nisso. Militava, lia, discutia. Hoje o mundo parece refém do "mercado", do consumo, e nossa cidadania não se reflete em quase nada. Você não acha que deveríamos nos enxergar em algum órgão público ou iniciativa social além dos "bolsas- famílias da vida? Um grande abraço!
Celina, concordo com você sobre essa impressão. Certamente devo estar muito melancólico e fatalista. Obrigado pelo comentário. Um abraço!
Olá Djalma, parabéns pelos posts instigantes. Cara o que pensa a respeito da predominãncia da burguesia financeira no capitalismo atual. Cara os bancos dominam os governos e as sociedades, ditam regras e agora estão sendo "socorridos" pelo Estado em nome da tal crise.
Abraços
Chuva sem noção. Minha quebrada tá que é só lama, a merda do busão lotado de gente molhada e fidida, cara não é brinquedo não
Obrigado, Leon. Concordo com voce, mas contra este dominio deve haver uma reaç~~ao.
Camila, e so descaso. Um absurdo. E no orçamento das prefeituras de todos os anos estao previstos recursos para solucionar eses problemas, e nada. Muita força oara voc^^e. Um abraço!
Olá Djalma, sou leitora assídua de seu blog, seus posts são sempre muito pertinentes, contudo em sua resposta ao comentário do Robson vc cometeu um pequeno equívoco conceitual. Aculturar significa uma ação coercitiva de dominação cultural e/ou ideológica.
Espero que não se ofenda com a retificação. Abraços
" Peça e se lhe dará; procure, e encontrará; bata, e se lhe abrirá." (Mateus, 7:7)
J´´ulia, muito obrigado pela observaç~~ao.
Tanto tempo sem posts... espero que esteja bem meu filho. Que Deus te proteja!
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