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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Barack Obama e a bola 8

No dia 04 de novembro de 2008, os Estados Unidos da América elegeram seu primeiro presidente negro. É inegavel que trata-se de um algo relevante e surpreendente, principalmente pelo fato do país estar atravessando sua pior crise econômica e financeira desde a "grande depressão" dos anos 30. Historicamente é um grande feito; politicamente, nem tanto. Após o malfadado governo do atual presidente George Bush, não sera tão difícil superá-lo em administração. No início da campanha eleitoral, John Mc´Cain postou-se como representante da ala moderada do partido Republicano, e o democrata Obama posicionou-se de forma flexível - de acordo com o estado onde discursava. Mc´Cain endureceu seu discurso e cedeu espaço a sua ultra-conservadora vice Sarah Palin, ao passo que caía nas pesquisas de opinião. Por sua parte, apesar do lema de sua campanha (change=mudança), Obama não as fará de forma tão radical assim, basta inteirar-se sobre a sua atuação como senador por dois mandatos. O futuro presidente é deveras melhor preparado que o atual. Formou-se em Direito pela Universidade de Harvard; foi membro da igreja da Trindade Unida de Cristo, a qual prega uma "teologia da libertação negra", porém, afastou-se do reverendo Jeremiah Whight durante a campanha, quando adversários exploraram dubiamente um discurso do religioso como "anti-americano". Em referência ao combate à crise americana causada pela ganância de seus próprios cidadãos - vale lembrar que nos anos trinta o presidente Franklin Roosevelt (um dos mais respeitados presidentes democratas) levou oito anos para vencer a grande depressão. Ressalto, que mudança política radical seria se alguns outros candidatos concorrentes de Obama - como a negra Cyntia Mc Kinney, do Partido Verde, a qual defende o fim do investimento em guerras e que o governo seja mais presente na vida da população americana; ou como a latina anti-globalização e fã de Che Guevara Glória La Riva, do partido Socialismo e Libertação, a qual defende a implantação do socialismo como a "única resposta", que quer estatizar a saúde, legalizar imigrantes irregulares, acabar com o embargo à Cuba e levar o presidente Bush à julgamento (devido a guerra do Iraque) - tivessem uma votação ao menos "expressiva". Em suma, o radicalismo na vitória de Barack Obama para a presidência dos E.U.A. acentua-se mais pela cor de sua pele, do que pelo seu posicionamento político. Sua vitória é comemorada em quase todas as partes do mundo pelo fato dele ser negro. Até o diretor de cinema Spike Lee (o qual realizou obras maravilhosas como "Mais e melhores blues", "Faça a coisa certa" e "Malcolm X") extrapolou sua alegria dizendo que não acreditava que estivesse vivo para ver o dia em que um negro seria o presidente dos E.U.A. Felicidade justificável em um país onde o preconceito racial é escancarado, como nas declarações recentes do diretor do grupo racista que apóia a supremacia branca, e que cansou de pendurar negros em árvores ao longo de sua história "Ku Klux Klan", o qual afirmou que Obama é apenas "meio" negro, visto que foi criado em um "lar branco", porque seu pai negro o havia abandonado quando criança. Porém, Barak Obama não é nenhum Martin Luther King, Malcolm X ou mesmo Jesse Jackson. Não estão assumindo a direção do país um negro (presidente Obama) e uma mulher (secretaria de estado Hilary Clinton) e sim, dois democratas que sabem muito bem "jogar o jogo" do capitalismo. Ao menos, lá na parte norte da América, o inimigo racista é explícito e não velado, camuflado e covarde como no Brasil. Onde, de geração em geração, os afro-descendentes (não importando seu grau de miscinenação) sofrem discriminação implícita, disfarçada, recorrente, sem reação ou desaprovação na maioria das vezes. Dias atrás, observava um grupo de jovens abastados financeiramente, brancos, estudantes da FACCAMP (faculdade particular com altíssimas mensalidades, que pretende ser a "Harvard" brasileira, instalada dentro do campus da UNICAMP) jogando sinuca em um bar, quando um deles - ao errar a bola 8 - repetiu displicentemente: "tinha que ser! Meu avô, depois meu pai, sempre disseram que enquanto não matar a bola 8 não se ganha o jogo, ela é zicada, dá azar...), em alusão ao preconceito repetido até em um simples jogo, em referência a cor preta da bola. Por falar em preconceitos implícitos no cotidiano brasileiro, se Barack Obama tivesse sido eleito presidente do Brasil, um racista acalmaria outro dizendo: "calma, ele é um preto de alma branca..." O problema é que aqui o inimigo é mais "suave" e perigoso do que o estúpido e revanchista diretor da Klan. Um abraço!
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Mara: Obrigado, espero que isso se realize em breve!
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Camila: Espero encontrar você em um desses eventos, seria um grande prazer!
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Patrícia: Amor, realmente a poesia do Sérgio Vaz é contagiante, um beijo!
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Digão: o respeito é mútuo, a revolução continua, a reação está virando um monstro!
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Carlos: Penso como você, e tem coisas de qualidade sendo produzidas por lá!

10 comentários:

Anônimo disse...

Djalma acompanhei as mesas de debates de "especialistas" em torno da eleição de Obama, mas confesso que nenhuma foi tão esclarecedora e sensata quanto seu texto, parabéns!

Anônimo disse...

Meus alunos fizeram várias perguntas em torno deste tema, seu texto é a melhor resposta que posso dar.

Anônimo disse...

É lamentável o nível de desinformação produzido pela "grande imprensa", a maioria dos jornalistas de hoje são meros reprodutores de factóides e, pior, acham que isso é ser jornalista. Lendo seu texto tenho a idéia exata do tamanho da inutilescência dessa imprensa, bá!
Grande abraço.

Anônimo disse...

Meu não entendi direito umas partes do que vc escreveu mais eu achei bom demais um negão ser eleito presidente dos EUA.

Anônimo disse...

Entrei nesse blog por indicação de um amigo (Carlos)e gostei muito.Sua história é um excepcional roteiro de um bom filme,espero ler seu livro em breve. Abraços

Anônimo disse...

Meu comentário está no LadoB
Bjos

Anônimo disse...

Cheguei aqui através do "LadoB", gostei muito!

Anônimo disse...

Sou aluna da Mara, já vi que está no código genético da família escrever bem, parabéns!

Anônimo disse...

Mais uma vez, parabéns pelo artigo. Ele consegue ressaltar o ponto principal de toda essa questão pertinente às eleições estadunidenses, que é a racial.
Infelizmente, até observando a estrutura de governo, Obama aponta para um governo "cinza" como preconizavam os especialistas, mais ou menos, o "rosa" da época "lulinha paz e amor". Temos mudanças, mas não tão radicais assim.
Ótimo artigo!!
Criei um blog sobre fotografia e sociedade, fiz uma breve abertura e ao final desta semana estarei postando novo artigo. Espero que apareça por lá!! www.janelaobjetiva.wordpress.com
Já fiz um link para o seu blog!

Um abraço!!

Anônimo disse...

Caro Djalma, belíssimo texto. Embora muitas questões por você colacadas mereçam apreciação mais cautelosa, o essencial foi dito. Vejo com muita simpatia a eleição do Obama, mas creio ser ainda muito cedo para garantirmos expectativas sobre seu governo. Há um risco muito grande de decepção para aqueles que não compreendem que o que você disse, ou seja, que ele sabe qual (e como) é o jogo do capitalismo. E, nesse passo, pouco importará discutir as questões raciais como a classe média sempre faz. Inverter a lógica do problema é a saída encontrada pelos segmentos não dispostos a entender a eleição tal como você desenhou. Espero que o Obama se torne um estadista e não repita as tristes lições dos populistas latino-americano atuais. Abração. Pito.