
Há poucos dias (exatamente há dez dias) completei os emblemáticos 40 anos de vida, e dentre reflexões, pensamentos, melancolias, agradecimentos e afins, percebi que realmente o espírito torna-se mais maleável com o conhecimento adquirido ao longo dos anos, e as costas calejam, invariavelmente, com as "pancadas da vida". Justamente em meio a esses desvarios, defronte ao painel que indicava as opções de minha arte preferida, resolvi dar uma chance ao "mago", pelo qual nutri uma antipatia intrinsica por anos. Explico, chamou-me a atenção o título do filme "Verônika decide morrer", mas quando li a sinopse e atentei-me para o fato da película ser uma adaptação de um livro do badalado Paulo Coelho, fui acometido por uma "catatonia" instantânea. Recordando a data festiva (40) e o desgastado brocardo: "a vida começa aos quarenta", decidi por de lado um suposto preconceito, ignorar uma intuição inata que repele os oportunistas e relembrar algumas composições que o "alquimista" fez em parceria com o ídolo de sempre Raul Seixas, e aceitei o desafio. Ao final do filme, conclui que se Veronika decidir morrer, realmente morrerá: de tédio. O velho "dom Paulete", como se referiu um dia Raul Seixas ao seu amigo continua o mesmo das colunas sobre fábulas - quase sempre orientais - com seus finais felizes que invariavelmente nos remete ao redundante moral da história... que publica em alguns jornais. Soube ao sair do cinema que este filme foi indicado a uma categoria do Oscar americano (só poderia ser mesmo), e aumentei minha indignação. A obra trata-se de uma armadilha de clichês e más interpretações, atenuados pela beleza da protagonista Sarah Michelle Gellar, que desponta em meio ao feio e evidente lugar comum da previsibilidade. Reflito sobre a quantidade de livros vendidos por Paulo Coelho; do seu sucesso na Europa e Estados Unidos; de sua petulância em postular um lugar na Academia Brasileira de Letras, mas, resigno-me frente aos fatos. Não tem como negligenciar o momento de carência, medo e ignorância pelo qual a sociedade contemporânea atravessa; e à lembrança de que José Sarney assenta seu traseiro em uma das cadeiras da ABL (embasado por seus "Marimbondos de Fogo"), onde já sentou-se Machado de Assis. Também assisti na semana passado ao filme "O contador de Histórias", que aborda a vida de Roberto Carlos Ramos (foto acima), o qual - por uma singela ingenuidade de sua genitora - passou a infância na famigerada FEBEM, e só teve sua tragetória de desventuras e agruras modificada por cruzar - em um momento de sua vida - com a francesa Margherit Duvas, que o alfabetizou e o levou para a França, de onde voltou para ensinar na própria FEBEM, e tornar-se, porteriormente, o maior contador de história do mundo. Esse filme - se comparado ao adaptado do livro do "mago" tinha tudo para cair no oceano de clichês, porém, sobrevive com galardia, e nos oferece uma obra com recursos lúdicos que descrevem com leveza, uma trama tão ácida. Essa, ao meu ver, é a diferença entre contadores de histórias e contos-do-vigário (ou do mago). E saber diferenciá-los (apreciá-los ou repelí-los) vai da ótica e intenção de cada um. No final do filme "Verônica decide morrer" um psiquiátra desvela toda a saturada trama ao revelar que mentiu sobre uma suposta doença terminal que a protagonista acreditava ter. Mentiu para que ela desse o verdadeiro valor a cada dia de sua vida e o vivesse como se fosse o último. Não precisava faltar com a verdade, à moda do mago, para dar o devido valor à vida, bastava mergulhar no universo dos adolescentes da FEBEM, como fez a francesa na vida de Roberto Carlos Ramos, denotando assepcia e dignidade à obra e à própria vida, atitudes tão em falta no nosso cotidiano. Um abraço!
4 comentários:
Pois é meu irmão agora temos Fernando Collor na Academia de Letras de Alagoas e Bruna Surfistinha no cinema. Devo mesmo estar ficando velha pois já não vejo tanta graça em certas coisas.
Beijo do Caco
Pois é são essas histórias de vida o nosso combustível. Aquilo que nos dá ânimo para persistir e acreditar que nem tudo está perdido e merecemos nosso quinhão de felicidade.
Salve irmão!
Essa do Collor só serviu para a gente se informar melhor sobre as benevolências da academia para com os poderosos. Getúlio Vargas foi aceito sem obra, apenas embasado por "seus" discursos, escritos por terceiros. E pensar que Mário Quintana foi rejeitado três vezes pela mesma academia. Um abraço. Caquitus!
Róbson, um salve irmão! Nossa própria trajetória prova isso, ao mesmo tempo somos esse combustível para outros, do qual necessitamos diariamente. Um abraço, e felicidade!
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