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quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tropa de (a) Elite! O que você tem a ver com isso?

Finalmente assisti ao tão badalado filme "Tropa de Elite", do cineasta José Padilha; baseado no livro "Elite da Tropa", escrito por um ex-policial do BOP da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro. Agora entendo porque algumas pessoas que sempre são questionadas sobre violência urbana se recusaram a falar sobre o assunto. O tema é delicado, melindroso; e o filme é realista, "à flor da pele", violento, mas de qualidade. O próprio diretor do filme foi estranhamente tachado de "fascista". A estória é cotidiana, alguns problemas urbanos são abordados na trama, sempre sob a ótica do narrador, um policial militar violento e incorruptível, que realmente acredita naquilo que prega. Concomitantemente ao lançamento do filme, uma polêmica interessante surgiu nas páginas do jornal "Folha de SP", o apresentar Luciano Huck foi vítima de roubo no bairro dos Jardins, na capital paulista, tendo seu relógio de marca "Rolex" subtraído, e publicou um artigo de desabafo sobre a violência que "assola" o país, e a necessidade de prender os bandidos, de se falar em segurança pública e, (suponho que num ato de desespero não justificado), chegou até a evocar o capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura no filme "Tropa de Elite"), para "acabar" com a violência nas grandes metrópoles. Alguns dias depois, o escritor Ferréz também publicou artigo na mesma "folha", criticando o discurso unilateral de Huck, e derramando uma enxurrada de realidade suburbana, da classe massacrada pelos consumidores de relógios e preciosidades importadas, posicionando-se do lado oposto ao do apresentador. Para variar, no resumo dos fatos, o discurso hipócrita prevaleceu: as razões do escritor não foram sequer ponderadas; e a pretensão do cineasta descaracterizada. O apresentador Luciano Huck foi reverenciado como o abastado que tem o direito de ser rico, pois conseguiu seu patrimônio com esforço e honestidade, e o máximo que recebeu de crítica foi a alusão ao "riquinho esperneando porque perdeu seu brinquedo". O cineasta José Padilha foi "classificado" como defensor de ideais da direita que justifica as atitudes repressivas e violentas da polícia, e vez por outra foi elogiado pelo bom filme. E o escritor Ferréz, por sua vez, foi linchado publicamente, acusado de ser defensor de bandido, inconseqüente, destruidor do estado de direito. O "patrulhamento", ávido por catalogar cada um no seu devido lugar não tardou, e a tropa da elite bradou em plenos pulmões: rico é rico, pobre é pobre, bandido é bandido, e filme tem que ter final feliz. Muito cômoda é a posição da elite neste país, a qual disseminou um bom número de discursos prontos, chavões, frases de efeito, e deitou em berço esplêndido, olhando de cima o "debate de uma nota só". Voltando ao filme, o mesmo deixa clara a necessidade de discutir a possibilidade da descriminalização das drogas, visto que a erradicação é uma utopia. O tráfico de entorpecentes é um grande negócio, como a comercialização de bebidas alcoólicas e de cigarros. Grandes conglomerados enriquecem vendendo bebidas e cigarros, com publicidade em horário nobre, passando a imagem de substâncias que o ajudam a relaxar após a correria do cotidiano de luta, sempre ao lado de mulheres bonitas e rapazes saudáveis; ocultando os males causados por esse "prazer". A droga é associada ao morro, à favela e ao cortiço, cercada de "magrelos" sem camisa, portando armas pesadas; e seus consumidores às pessoas perturbadas, perdidas, viciadas. Convenhamos, o efeito é o mesmo, o malefício é o mesmo, o dinheiro arrecadado é o mesmo, porém, por tratar-se de coisa ilícita, proibida, a droga alimenta outro micro-cosmo, onde os atravessadores usam de métodos violentos para se estabelecer, mas não menos imorais que os outros. Esse comércio velado deságua em outros males como a indústria da punição, a inutilidade do sistema penitenciário, o preconceito sofrido por moradores dessas áreas de tráfico, etc. No filme, a "guerra retratada" é causada e combatida pela mesma polícia. O traficante ocupa um espaço negligenciado pelo estado, que intervem para se beneficiar do próspero comércio de drogas ou para reprimir e moralizar, mas nunca para suprir as necessidades dos desfavorecidos. Isso foi mostrado pelo diretor do filme, e precisa ser explicitado muito mais, pois existem várias e paradoxais intervenções estatais, e diversas incorreções nessa nossa sociedade multifacetada. Contudo, classificar o cineasta de fascista é no mínimo impróprio. Outro ponto é aplaudir o desabafo do rico indignado que teve um súbito contato com a violência, e execrar o também desabafo do periférico que sente na pele diariamente a violência. Usar da força e da ameaça para tomar um objeto caríssimo, que daria para comprar mais de uma casa na periferia, e sustentar uma família pobre por alguns meses é ilegal; mas usar no braço alguns anos de salário da média de todos os trabalhadores do país é imoral. Para posar de vestal que ajuda os pobres é preciso ter consciência social, não apenas usando uma parcela de seus vultosos lucros para manter uma instituição de "caridade", mas tendo conhecimento do que faz o despossuído se sentir mal, de fora da sociedade de consumo. É não contribuindo para a erotização precoce das crianças dos subúrbios, com suas "Tiazinhas" e "Feiticeiras", que reduzem as mulheres a meros bibelôs sensuais. É não expor os necessitados a situações constrangedoras em troca de alguns trocados, em quadros do seu programa semanal, mantido à custa de polpudos contratos de publicidade. Conheço a obra do escritor Ferréz; do livro infantil Amanhecer Esmeralda ao romance Manual prático do ódio. Acompanho sua luta na idealizada revolução literária. Esporadicamente leio seus artigos publicados em algumas revistas. E nunca o vi prestando um desserviço social, pelo contrário, ouço apenas mais uma voz resistente, altruísta, às vezes equivocada, remando contra a maré, fugindo do recrutamento da elite.
Porém, o essencial de tudo isso, é permitir o debate desinteressado, isento, não obtuso, onde cada indivíduo possa "olhar com olhos livres", e refletir sobre esses temas polêmicos que indiretamente direcionam nossas vidas e interferem no nosso cotidiano, não aceitando o "entendimento pronto" que lhe empurram garganta abaixo. Afinal, para bom entendedor, um risco quer dizer Francisco, ou Luciano, ou Reginaldo, ou Padilha...Em tempo: segundo o dicionário Aurélio: "elite: s.f. O que há de melhor em uma sociedade ou grupo; nata; flor. Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos. Até breve!


Um apelo: algumas pessoas que não deixam comentários neste blog, têm discutido fora deste espaço, ou dito a outras pessoas que leram os posts. Isso é ótimo, porém, pediria encarecidamente que deixassem qualquer observação, mesmo uma palavra, ou a expressão "eu li". Por mais estranho que pareça, isso é fundamental para balizar essa iniciativa. Obrigado!

Resposta ao " Jão": Ninguém expressa o que não é, ou "paga uma sugestão" só porque teve problema. Quem me conhece e sabe da minha estória não se surpreende com minhas palavras. Viemos todos do mesmo lugar, para onde vamos é que são elas. Vou para o debate, tento publicar meu livro, e assim vou aprendendo um pouco com quem interage nesse espaço. A polícia, a milícia, a quadrilha, são só detalhes. Força e esclarecimento irmão, um abraço!

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá Djalma. Já leio seu blog há algum tempo, resolvi deixar um comentário atendendo seu "apelo".
Confesso que a cada post seu levo um tempo razoável para digerir tudo, vc escreve muito bem e com isso quero dizer que vc vai ao cerne, ao núcleo de questões "incômodas" já que estão há tempos catalogadas como certas ou erradas.
Não o conheço pessoalmente, mas acredito em vc, em seu livro e em sua capacidade de promover um debate sério, honesto e democrático sobre justiça social, humanização da ação policial, educação e cidadania. Parabéns!
A luta é dura, mas não esmureça
Um abraço

Anônimo disse...

Oi Djalma!
Vim aqui pra perguntar sua opinião sobre o filme Tropa de elite e eis que já estava aqui. Parabéns e muita força pra continuar esta batalha...

Beijos
Claudia

Anônimo disse...

Orra mêu feriadão acumulopu um monte de trampo nem deu pra entrar antes. cara arrasou mais uma vez. Seguinte vc leu o livro que eles estdam lá no Tropa?
Queria saber mais sibre ele.

Anônimo disse...

Oi Djalma!
Sou aluna da profa. Márcia, ela dá aula de história e as vezes leva seus posts pra gente ler.
Tem muita coisa que não entendo direito, mas gosto da maneira como vc escreve, é muito educado e eu sempre achei os policiais escrotos e ignorantes (desculpe minha sinceridade)
Vc poderia me explicar se não existe mesmo corrupção no Bope como mostra o filme?
Obrigada

Anônimo disse...

Djalma, admirável sua capacidade de escrever, que Deus ilumine teu caminho.

Unknown disse...

Continuo a leitura.