Com a chegada de um novo ano, renovam-se as esperanças, e ficamos ávidos por novidades boas, que possam melhorar nossas vidas. Porém, se o veículo de comunicação e formação de nossas opiniões continuar sendo a imprensa e "meia dúzia" de "mantenedores do status quo", estamos perdidos! É lamentável e desestimulante acompanhar o noticiário dos primeiros dias do ano, e aos comentários dos especialistas de plantão. Destaco cinco notícias que foram exaustivamente discutidas, como o que de mais importante estaria acontecendo no momento, e suas requentadas análises: a sucessão presidencial americana; diversos casos de "balas perdidas" pelo Brasil; pop star americana sendo internada à força e perdendo o direito de ver os filhos; início do mais popular reality show da televisão brasileira e; finalmente, manifestações quase uníssonas contra a saída provisória dos presos no Natal e Ano Novo. Algumas considerações:
I - Um historiador diz em um telejornal que a vitória de Barack Obama na prévia do partido Democrata representa uma virada de página na história política americana. Só se for virar a página para o próximo capítulo da mesma estória! A diferença entre Republicanos e Democratas no cenário político americano significa exatamente alguns conservadorismos a mais por parte dos primeiros, não fazendo dos segundos radicais de esquerda que pretendem mudar a história de injustiça mundial. Surpreender-se por um negro americano sair na frente da prévia de seu partido para disputar pela primeira vez uma eleição presidencial, é no mínimo ingenuidade. Em justa medida, no sentido pejorativo mesmo, Barack Obama é tão branco quanto Hilary Clinton. Independente de quem ganhe as eleições americanas, a mais bélica das nações continuará a ser intervencionista, imperialista e a desrespeitar as soberanias dos demais países.
II - Reportar os casos de violência extrema como "balas perdidas" parece que basta para os jornais e televisões, como que classificando-se crimes diferentes, cometidos em situações diferentes, e em pontos diferentes do país, como uma linha de produção de fatalidades, amenizasse o problema. Nenhuma projeção, análise, estudo de causa foram considerados em relação aos fatos isoladamente. Dá-se a impressão que temos que aceitar a violência corriqueiramente, como parte de nossas vidas, sem dissecarmos nossa parcela de culpa e falta de iniciativa para revertermos o quadro. Basta esperar o rótulo: "bala perdida"; "chacina"; "assalto", e elegermos um culpado: "polícia"; "governo"; "bandidos"; "menores infratores". A má distribuição de renda; a educação negligenciada; a sociedade cegamente consumista; a avareza; a usura; a ausência de solidariedade, passam a ser detalhes. O que foi feito de efetivo no ano que passou para mudar a desigualdade social, principal causa da violência. A "bala que se perdeu" em Belo Horizonte; Porto Alegre; litoral paulista; etc., não se perdeu de forma padronizada, mas, certamente, direcionada por um dos motivos acima elencados, e pelos órgãos de imprensa ignorados.
III - A "pop star" americana Britney Spears, que iniciou sua carreira como diva angelical da cena musical internacional rendeu cifras vultosas para os profissionais do show bussiness, para a imprensa fútil que acompanha a vida de "celebridades", para a indústria do falso glamour, em sua fase recatada. Quandom rebelou-se, agregando um pouco mais de atitude em sua personalidade, até beijando a cantora Madonna em público, faturou ainda mais aos cofres dos sanguessugas acima relacionados; e agora, no seu melancólico declínio como dependente química, viciada, desorientada e abandonada, continua a proporcionar gordas remunerações com a cobertura de seus escândalos. É patético e revoltante ver uma moça que necessita de tratamento, independente das baboseiras que cante ou de suas infelizes escolhas, ser exposta, execrada e pré-julgada pela mídia de banalidades. Como um produto descartável, que será sugado até sua extinção, sem causar a indignação dos inertes expectadores.
IV - O "espetáculo da vida real", que confina alguns jovens bem apessoados, numa competição para averiguar quem pode ser mais evasivo, fútil, hipócrita e dissimulado; de realidade não tem nada. A começar pela seleção dos candidatos. Os que se atrevem a expor-se, mostrando a face pobre, inculta, feia e equivocada do Brasil verdadeiro, bem como o nível de educação e cultura em que nos encontramos, são ridicularizados nos programas "Fantástico" e "Vídeo-Show" da Rede Globo, como aloprados que foram desclassificados e reconduzidos ao show de horrores que é suas próprias vidas. Os selecionados para a "real" competição, parecem recém-saídos de mini-séries americanas, com corpos modelados e caráter deformado, compondo uma nova leva de canastrões que serão aproveitados na sofrível programação da televisão, em revistas masculinas e eventos alienantes. A dúvida que persiste é onde o cidadão médio da população se vê naquele simulacro de vida real.
V - O estado de São Paulo - unidade federativa que mais prende, condena e encarcera do país - possui atualmente uma legião de aproximadamente 144.000 penitentes nos seus calabouços. Nos últimos seis anos (segundo fonte da agência Estado), a população carcerária do estado quase que dobrou, o que equivale a quase 800 presos por mês, ou a 1 detento por hora. Prá quê? Na teoria, um infrator deve ser julgado, e se condenado, cumprir sua condenação em regime de progressão de sua pena, ou seja, conforme vai sendo reeducado pelo estado, vai resgatando sua cidadania, passando do regime fechado, para o semi-aberto, e, consequentemente para o aberto. Na prática, nada disso pode ser levado em consideração. O condenado passa por um período de expiação do seu corpo e de sua mente, perde a noção de civilidade, passando a sobreviver em um micro-cosmo totalmente diverso de nossa sociedade regular, e sente a "vingança pública" travestida de ressocialização diariamente. Quando o estado decreta que o preso que tenha cumprido um 1/6 de sua pena, encontra-se no regime semi-aberto, e com bom comportamento - em tese tendo progredido - poderá sair provisioriamente da prisão e passar algumas datas importantes com seus familiares; a opinião pública entra em polvorosa. Para variar, apenas reportando casos isolados, sem discussão aprofundada. Ressalte-se, que essa saída ainda depende da análise dos órgãos públicos (prerrogativa da justiça), a qual deverá saber quem está preparado ou não para a reinserção social gradativa. Pois bem, vamos decidir corajosamente nossa posição: somos vingadores ou acreditamos na recuperação de quem supostamente delinquiu? Vamos optar por um lado e deixar cair o pano; e, é claro, assumirmos toda a responsabilidade pela involução de nossa existência!
Obs.: Neste último Natal, 17.968 presos com direito à saída provisória receberam esse benefício, sendo que 1.143 não voltaram para as prisões (144 unidades) do estado de São Paulo, o que equivale a 6,36% dos detentos, o mais baixo índice desde 2.002. (fonte Jovem Pan/UOL).
De fato, o ano se inicia com a impressão de que o ano anterior não acabou, e a luta pela sobrevivência vai sendo travada, sem sentirmos as "verdades" que - segundo a grande imprensa - mudarão as nossas vidas. "Feliz Ano Novo", ou melhor, "Feliz Ânimo Novo". Não esmorreçam, um abraço!
7 comentários:
Você tem toda razão Djalma esse cenário de unanimidade midiática dentro e fora do Brasil é desolador.
Parabéns voltou com tudo!
Salve Jão!
ce deve manjar da quebrada mesmo estando do lado de lá. Difícil confiar, pagar pau. Firmeza!
As pessoas não querem riscos:manicômios; as pessoas não querem dor: analgésicos; as pessoas não querem violência: penitenciárias; as pessoas não querem se sujar: polícia; as pessoas querem ser felizes: Televisão!
Congratulações Djalma vc realmente sabe "dar a outra face"em tudo!
Seus textos são um primor Djalma.
Aproveito para agradecer a resposta à minha indagação.
E como vc vê o caso do assassinato da Benazir Butto?
Abraços
Aí na moral porque que esse Obama num é preto? Na real não entendi mano?
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