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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Carnaval, Cinzas e Ressureição!

Segundo historiadores, o "Carnaval" é uma festa regida pelo ano lunar, tem suas origens na antiguidade, começava no "Dia de Reis", e acabava na "Quarta-Feira de Cinzas", às vésperas da "Quaresma". O período era marcado pelo "adeus à carne" ou "carne nada", dando origem ao termo carnaval. Por sua vez, o "Dia de Reis", segundo a tradição cristã, seria aquele em que Jesus Cristo (recém nascido), recebera a visita de uns reis magos, e que ocorrera no dia 6 de janeiro. Os festejos realizados nesse dia ficaram conhecidos como "Folia de Reis". Por sua parte, a "Quarta-Feira de Cinzas", é o primeiro dia da "Quaresma", no calendário cristão ocidental. As cinzas que os católicos recebem neste dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passagem transitória, e efêmera fragilidade da vida humana. A "Quaresma" é o tempo litúrgico de conversão que a tradição cristã marca para preparar os crentes para a grande festa da "Páscoa". Durante esse período, os fiéis são convidados para um tempo de penitência e meditação. Finalmente, a "Páscoa" - termo hebraico que significa "passagem" - é um evento cristão que celebra a ressurreição de Jesus Cristo (vitória sobre a morte), depois de sua crucificação.
Independente da origem das festas e datas religiosas; da crença ou não em Deus; da escolha para qual facção religiosa o "temente" doará seu dízimo; o que importa é que a convenção cultural existe, mesmo que totalmente descaracterizada. O sentido dos eventos co-relacionados foram deturpados para a maioria da população, e a grande festa do carnaval brasileiro, reconhecido mundialmente, transformou-se numa sórdida "folia de reis" às avessas: rei do jogo-do-bicho, rei do tráfico de drogas, rei da demagogia com dinheiro público, rainha da bateria fazendo curso para aprender a sambar, reis de vendas de abadás para acompanhar trios-elétricos... No país inteiro, prefeituras preocupadas com o ano eleitoral, subsidiam o carnaval com repasses de verbas para a realização do evento sem prestar contas a ninguém. Se tomarmos o exemplo do maior carnaval do país, o da cidade do Rio de Janeiro, constataremos o equívoco oportunista. As grandes escolas de samba daquela cidade, sempre foram patrocinadas pela contravenção do jogo-do-bicho; pelo dinheiro do tráfico de drogas; pela venda de enredos, espaços e fantasias para pessoas de fora de suas comunidades e pela liberação de verba pública pelo município e pelo estado. Este ano, a imprensa noticiou que - para a realizaçao da festa - a prefeitura do Rio de Janeiro liberou R$ 9.000.000,00 (nove milhões); o governo do estado do Rio de Janeiro R$ 4.000.000,00 (quatro milhões) e a estatal Petrobrás R$ 6.000.000,00 (seis milhões), sendo que todo esse dinheiro será gerenciado e distribuído pela LIESA (Liga Independente das escolas de samba), historicamente dirigida pelos "patronos" das escolas de samba (banqueiros do jogo-do-bicho, e mais recentemente, traficantes de drogas), cujo último presidente (bicheiro) foi preso pela Polícia Federal no ano passado. Inocências e hipocrisias à parte, esses criminosos se estabeleceram justamente onde o Estado é ausente e onde a população carente é totalmente desassistida. Impulseram seu império de contravenção e tráfico de drogas pela força e pelo terror; bancados pela corrupção e omissão dos órgãos públicos; patrocinados inicialmente pelo folclore do bandido provedor e assistente dos pobres, e agora exclusivamente pela coação e desespero dos moradores cada vez mais abandonados à sorte. E, por sobre esse cinza das áreas pobres e sem assistência básica (previsto na Constituição Federal como obrigação estatal), juntam-se os delinquentes que oprimem e corrompem o marginalizado, com os chefes-dos-executivos omissos e demagogos, nessa festa colorida e deturpada. Resta-nos observarmos o sentido da quarta-feira (simbolicamente recebermos as cinzas para a reflexão e mudança de vida), e não aceitarmos passivamente essa "estranha e velada associação" entre partes que deveriam combater-se e repelirem-se, para o bem público. Nada contra a festa, desde que a folia seja em forma de catarse de pessoas que pretendem expurgar alegremente as agruras do ano todo. De forma saudável, não subsidiada, diversa dessa estabelecida "para gringo ver", alimentando o turismo sexual e denegrindo a imagem do país no exterior, como terra do "samba do crioulo doido".
"Se você mentalizasse na folia, sabe lá se não seria a solução prá de manhã pensar melhor..." (Osvaldo Montenegro). Um abraço!
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Mara: Faço uma analogia sobre o meu aprendizado referente à sociedade, e a forma de como o Nelson Rodrigues dizia ter aprendido sobre sexualidade: "aprendi pelo buraco da fechadura".
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Róbson: obrigado pela orientação
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Carlos: obrigado pelas dicas e pela preocupação, é pancada de todos os lados amigo!
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Camila: sua amiga leu o post?
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Larissa: fico lisonjeado com as suas palavras, obrigado.
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Célia: bom poder contar com você e com suas observações pertinentes, obrigado.
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Carla: emocionantes e esclarecedoras suas palavras. Fiquei realmente emocionado, obrigado.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Família Brasileira (crônica de uma semana comum)

Às vezes, a realidade parece ficção nessa atribulada vida cotidiana de sobrevivência arrancada à fórceps. Por mais que me esforce, tenho enorme dificuldade em entender as relações humanas, em assimilar sem pré-julgar as escolhas pessoais, em compreender o grau de importância que as coisas representam para cada indivíduo, e a aceitar o poder de indignação ou omissão dos membros de nossa sociedade. Acompanhem a trajetória trivial e corriqueira deste brasileiro, durante a semana que passou, nesse fragmento de uma estória particular.
A semana começa com o êxito de um filho que, após ser abandonado pela mãe, e entregue a uma família de estranhos há aproximadamente vinte anos, consegue localizar a sua genitora, através de uma busca digna de uma odisséia, com desmedida felicidade. A mãe (genitora) "errou de João" como na música do Chico Buarque, e amasiou-se com um canalha de vida desregrada, e após gerar três filhos, passou a morar na rua, comer sobras de lixo, viver de doações e apanhar diariamente. Julgando não ter como sustentar as três crianças, a genitora optou por "doar" os filhos para famílias abastadas, com dificuldades para ter filhos legítimos. Justamente nesse momento, essa mulher (bonita e atraente, apesar dos maus-tratos da vida) conheceu um homem bom e digno, imigrante nordestino, trabalhador e altruísta. Porém, a condição não permitia - segundo suas avaliações - "criar" todas as crianças, e dois meninos foram adotados por famílias desconhecidas, e uma menina foi criada pelo casal, que posteriormente, quando a vida melhorou um pouco, teve mais três filhas. A família viveu em um lar regular, feliz e rígido por aproximadamente dezoito anos: o pai, a mãe e as quatro filhas; com uma vaga, dolorosa e silenciosa lembrança dos dois meninos lançados ao mundo. A mãe, após esses dezoito anos de vida confortável e estável, conforme o padrão do trabalhador brasileiro, foi acometida por um súbito fanatismo religioso, e praticamente internou-se em uma igreja evangélica, e um belo dia deixou um bilhete com pedido de perdão e fugiu - apenas com a roupa do corpo e alguns trocados - com um desocupado, metido a pregador, feio e sem instrução. Reeditou todo o sofrimento do primeiro casamento, passando fome, vivendo de esmolas e submetendo-se a agressões diárias. Quando finalmente livrou-se do covarde companheiro, e arrumou um barraco em uma favela para instalar-se precariamente, foi encontrada por um dos filhos abandonados, que nada questionou, apenas a beijou, a levou para passear, e disse: "agora tenho a quem presentear no Natal!"
Durante a semana, também participei de uma dessas audiências criminais, a que me referi no último post. Como fiz a opção por "trabalhar" e não por me omitir quando exercia plenamente minha função policial, essas audiências persistem até hoje, mesmo estando afastado há algum tempo, me dedicando a projetos muito mais gratificantes e satisfatórios. Pela primeira vez em minha carreira, não me recordava do fato, e apenas aguardei minha vez de dar meu depoimento. Os dois acusados chegaram à vara criminal algemados, usando uniformes do sistema carcerário e escoltados por dois policiais militares e um agente penitenciário. Um deles levantou a cabeça, me olhou com muito ódio e cutucou o colega. A diferença é que o olhar não encontrou reflexo, o sentimento negativo não encontrou reciprocidade de minha parte, como aconteceria antigamente. Meu ex-parceiro, ainda na "febre" do exercício da função, resmungou: "...folgado esse moleque, hein! você lembra do caso". O juíz de direito leu rapidamente os nomes dos acusados, e me perguntou o de praxe: "na data tal, no endereço tal, os indivíduos foram presos por roubo, etc... O que o sr. lembra disso?" Respondi tranquilamente que, infelizmente, não me recordava de nada. Ele então folheou automaticamente as folhas do processo judicial, localizou meu relatório, e disse: "O sr. ratifica esse relatório?" Olhei brevemente as folhas do relatório que fiz há quatro anos atrás, e respondi que sim, assinei meu depoimento, e fui embora. Na lembrança, o olhar de raiva e rancor do acusado, cuja fisionomia eu recordava, mas que o esclarecimento sobre certas coisas, me fez esquecer do ocorrido. Poucas horas depois, uma amiga relata que está atarefada com o nascimento de sete filhotes de seus cães de raça "São Bernardo", de linhagem pura e autêntico pedigree. Diz que vai doar apenas um para uma amiga querida, e vender o restante da ninhada, cujo preço de cada filhote corresponde a R$ 1.800,00 reais. Diante do meu espanto, ela esclarece que todos os dias atende a um bom número de interessados, e que provavelmente venderá os filhotes em uma semana. Explica que quem adquirir o referido cachorro, terá que arcar com o custo do documento que comprova o pedigree, com as vacinas obrigatórias, com as visitas periódicas ao veterinário e com outros mimos caninos. Surpreendo-me e até reajo com rispidez, quando ela revela que a amiga querida a quem ela doará o filhote será a minha esposa, mas depois de minha reação espontâneo e veemente, procuro ponderar. Ouço uma gama de explicações, desde a importância do animal para o crescimento do meu filho; até o fato da oportunidade de obter um cachorro tão caro, sem nenhum custo. Jamais vou compreender e conseguir relacionar estes fatos de forma serena, e não tenho a pretensão de assimilar com tranquilidade as relações humanas.
Pouco antes de escrever essas palavras , recordei-me do menino que me olhou com ódio no tribunal; de como ocorreu a prisão; de como ele estava drogado no dia do roubo; de como ele delatou seu parceiro; de como as manchas de micose adquiridas na cadeia já tinham se espalhado pelo seu corpo; de como ele não deveria estar recebendo atendimento médico no cárcere; de como sua família deveria estar desestruturada; de como a gente julgava estar fazendo justiça... Ouço de longe, minha mulher feliz em conhecer seu "meio-irmão" após vinte anos, com o filhote de "São Bernardo" latindo pela sala, e meu filho Heitor tentando segurá-lo. Um abraço!
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Patrícia Oliveira: Também relembrei nossa estória, e compartilhei dessa emoção. A luta continua, um grande beijo!
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Camila, Carla, Cláudia, Bezão, Mara, Célia: Muito obrigado pelas palavras! Um abraço!
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Márcia: Adorei a sua idéia, sempre tive vontade de falar para alunos da escola pública. Também tenho um projeto para palestras. Se puder me orientar sobre esse projeto para as Delegacias de Ensino, ficarei muito agradecido. Um abraço!
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Nina Flora: Se destacaria sim. É um outro ponto de vista, e o roteiro é muito bom. É sempre gratificante ver filmes de qualidade surgindo no cenário nacional, e nos levando à reflexão. Um abraço!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Meu nome não é Johnny!

Nessa semana que passou, assisti ao filme "Meu nome não é Johnny", com atuações respeitáveis dos atores Selton Mello, Cléo Pires e Júlia Lemmertz, baseado no livro de mesmo nome, o qual narra a estória de vida do próprio autor João Guilherme Estrella; jovem da classe média carioca, usúrio de drogas, que chegou a ser um dos mais conhecidos traficantes da cidade do Rio de Janeiro. O filme é emocionante, e como qualquer obra de arte, é sentido de forma diversa, e leva cada um a refleti-lo conforme seu patrimônio cultural e atual estado de espírito. Compartilho agora minhas impressões e algumas feridas ainda não cicatrizadas, a que esse bom filme me remeteu.
A estória ajuda a refletir sobre família, amizades, escolhas individuais, e, principalmente, a desmistificar a onda causada por "Tropa de Elite", de que todo tráfico de drogas acontece apenas nos morros cariocas, com moleques pobres, quase sempre afro-descendentes, sem camisas, portando armas automáticas. O personagem principal vivia numa eterna "balada", acompanhado de jovens brancos, com o esteriótipo de classe mais abastada, com festas diárias regadas à drogas lícitas e ilícitas, numa quase interminável viagem hedonista, não se atentando para à escalada que o levou de usuário a comerciante de entorpecentes, com o intuito inicial de sustentar seu vício e opção de vida. O filme dá uma virada à partir da inevitável prisão do personagem principal, sob a acusação de tráfico internacional de drogas, e sua inclusão no sistema penitenciário. Daí em diante, mergulha-se numa enorme depressão, num choque de realidade que é essa estupidez da mera segregação sem objetivo digno. Os mesmos vícios, tragédias, facções criminosas, degradação do ser humano são apresentadas. Não obstante as particularidades regionais, ou os nomes que se dê para essa aberração social: cadeia é cadeia em qualquer lugar. O filme aprofunda-se ainda no mundo dos manicômios judiciais, denominados "casas de custódia"; depósitos de indivíduos que necessitam de tratamento, e ao invés disso; são monitorados com doses elevadas de remédios e abandono. Como se a idéia fosse recuperar e não apenas castigar. No próprio estado de São Paulo existe um rol de siglas (C.D.P.; C.P.P.; C.R.), que anuviam a visão dos incautos e despolitizados contribuintes, os quais são ludibriados pela teoria da suposta ressocialização. No filme, aborda-se também o julgamento do personagem principal com a velha frieza da rotina das decisões em série, como se todos os casos fossem iguais, e se todos os que delinquiram tivessem uma pré-disposição congênita para tal. O cenário aproxima-se bastante da realidade: um promotor justiceiro, uma intocável juíza semi-deusa, um advogado atento para as habituais brechas judiciais e um emaranhado de papéis timbrados. O diferencial do julgamento tratado na estória, é que a juíza de direito sensibilizou-se com a sinceridade do personagem principal, e seu depoimento despojado e contundente, o condenando à pena mínima e o encaminhando para tratamento. Mas, a realidade é muito diferente disso. Iniciando pela pouca chance que os réus têm de se pronunciarem nas audiências criminais. Participei de incontáveis como policial e de uma como réu, e - como relato em meu livro - o juíz que me julgará nunca ouviu meu relato. As referidas audiências são rápidas, automáticas e impessoais. Quase sempre com o esteriótipo do jovem favelado, ou morador em "áreas de risco", acuado, pronunciando-se num misto de gírias e tentativas de parecer instruído; com testemunhas amedrontadas, sendo interrompidas pelo juíz em seus testemunhos, o qual exige objetividade (ou depoimentos em linha de produção); e decisões análogas. Naquele ambiente, nem julgador e nem julgado têm a menor noção do que se passa na vida do outro, no seu meio, na sua vida, no que seria efetivamente necessário para sua inserção social, no que está errado nesse país. Afirmo com convicção, que se o personagem Johnny fosse negro, magrelo, favelado, falasse um português sofrível, olhasse para o chão durante o julgamento, usasse chinelos "havaianas", e expressasse no olhar toda revolta e raiva das pessoas que estivessem naquele tribunal, seria condenado à pena máxima. Porém, para mim o que foi sentido mais profundamente no filme, foi quando o personagem principal saiu provisoriamente da prisão ("indulto"), para passar o Natal com sua mãe, e após rever familiares, amigos e ex-companheira, passou horas (até o amanhecer), sentado na areia da praia, fitando o mar, enquanto seus amigos dormiam dentro do carro, o esperando. Esse sentimento é particular, e como disse no início desse texto, sentido individualmente por cada espectador, e para mim foi devastador lembrar de como se passou minha saída de um destes estabelecimentos prisionais. Tudo perde o sentido, o mundo exterior é algo que não te pertence, que você não compreende de imediato. Perde-se a noção de tempo e espaço. A sua hierarquia de valores e coisas importantes, modifica-se. E a superficialidade de nossa sociedade atual aflora-se em cada novo contato social. Têm-se a impressão que tudo está viciado, que a realidade é ficção. Sua máscara social diária, que adotamos conforme a conveniência e o compromisso, não tem mais sentido. A crueza de nossa existência é mais importante. Na mesma noite de minha saída, minha família perguntou que comida eu gostaria de provar, e paramos em uma pizzaria, para eu degustar algo com "gosto de rua", porém, a iguaria não descia pela garganta. Recordava-me apenas dos ex-companheiros de cárcere que haviam ficado para trás. Só quem já esteve dos dois lados do problema (incluindo e sendo incluído), pode dizer com propriedade que a discussão sobre esse sistema punitivo e discriminatório faz-se urgente. Retornando ao filme, no final aparece na tela uma mensagem de uma juíza de direito dizendo agora acreditar na recuperação de quem supostamente delinquiu, reiterando a confusão de opiniões sobre esse equívoco chamado sistema carcerário. Que bom seria se todos pudessem afirmar enfaticamente em um tribunal: "meu nome não é Johnny, não é réu, não é reeducando, não é alcunha, não é aliases, não é um número, não é estatística...", e contar sua estória de vida. Um abraço!
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Camila: Aquele abraço afetuoso de sempre!
Márcia, Denilson, Carlos: Muito obrigado pelas palavras.
Cleiton: Difícil expressar indignação em forma de poema, e com talento. Parabéns!
Célia: Muito obrigado, Chico César cantou: "não aponte o dedo para Benazir Bhutto, seu puto, ela está de luto, pela morte do pai. Não aponte o dedo para Benazir! (aguarde)
Bezão: Um dos maiores desafios do candidato Barack Obama é provar para os próprios negros politizados dos E.U.A., que apesar da cor de sua pele, não é tão conservador e reacionário quanto seus colegas de partido Democrata, e que pode ser um líder como Malcon X, Martin Luther King, ou mais recentemente, Jesse Jackson, que tinham alguma proposta efetiva para lutar contra a discriminação em um dos países mais racistas e intolerantes do mundo. Gilberto Gil cantou: "Bob Marley morreu, porque além de negro era judeu. Michael Jackson ainda resiste, porque além de branco, ficou triste." É preciso ter atitude irmão, um abraço!

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ano novo, velhas hipocrisias!

Com a chegada de um novo ano, renovam-se as esperanças, e ficamos ávidos por novidades boas, que possam melhorar nossas vidas. Porém, se o veículo de comunicação e formação de nossas opiniões continuar sendo a imprensa e "meia dúzia" de "mantenedores do status quo", estamos perdidos! É lamentável e desestimulante acompanhar o noticiário dos primeiros dias do ano, e aos comentários dos especialistas de plantão. Destaco cinco notícias que foram exaustivamente discutidas, como o que de mais importante estaria acontecendo no momento, e suas requentadas análises: a sucessão presidencial americana; diversos casos de "balas perdidas" pelo Brasil; pop star americana sendo internada à força e perdendo o direito de ver os filhos; início do mais popular reality show da televisão brasileira e; finalmente, manifestações quase uníssonas contra a saída provisória dos presos no Natal e Ano Novo. Algumas considerações:
I - Um historiador diz em um telejornal que a vitória de Barack Obama na prévia do partido Democrata representa uma virada de página na história política americana. Só se for virar a página para o próximo capítulo da mesma estória! A diferença entre Republicanos e Democratas no cenário político americano significa exatamente alguns conservadorismos a mais por parte dos primeiros, não fazendo dos segundos radicais de esquerda que pretendem mudar a história de injustiça mundial. Surpreender-se por um negro americano sair na frente da prévia de seu partido para disputar pela primeira vez uma eleição presidencial, é no mínimo ingenuidade. Em justa medida, no sentido pejorativo mesmo, Barack Obama é tão branco quanto Hilary Clinton. Independente de quem ganhe as eleições americanas, a mais bélica das nações continuará a ser intervencionista, imperialista e a desrespeitar as soberanias dos demais países.
II - Reportar os casos de violência extrema como "balas perdidas" parece que basta para os jornais e televisões, como que classificando-se crimes diferentes, cometidos em situações diferentes, e em pontos diferentes do país, como uma linha de produção de fatalidades, amenizasse o problema. Nenhuma projeção, análise, estudo de causa foram considerados em relação aos fatos isoladamente. Dá-se a impressão que temos que aceitar a violência corriqueiramente, como parte de nossas vidas, sem dissecarmos nossa parcela de culpa e falta de iniciativa para revertermos o quadro. Basta esperar o rótulo: "bala perdida"; "chacina"; "assalto", e elegermos um culpado: "polícia"; "governo"; "bandidos"; "menores infratores". A má distribuição de renda; a educação negligenciada; a sociedade cegamente consumista; a avareza; a usura; a ausência de solidariedade, passam a ser detalhes. O que foi feito de efetivo no ano que passou para mudar a desigualdade social, principal causa da violência. A "bala que se perdeu" em Belo Horizonte; Porto Alegre; litoral paulista; etc., não se perdeu de forma padronizada, mas, certamente, direcionada por um dos motivos acima elencados, e pelos órgãos de imprensa ignorados.
III - A "pop star" americana Britney Spears, que iniciou sua carreira como diva angelical da cena musical internacional rendeu cifras vultosas para os profissionais do show bussiness, para a imprensa fútil que acompanha a vida de "celebridades", para a indústria do falso glamour, em sua fase recatada. Quandom rebelou-se, agregando um pouco mais de atitude em sua personalidade, até beijando a cantora Madonna em público, faturou ainda mais aos cofres dos sanguessugas acima relacionados; e agora, no seu melancólico declínio como dependente química, viciada, desorientada e abandonada, continua a proporcionar gordas remunerações com a cobertura de seus escândalos. É patético e revoltante ver uma moça que necessita de tratamento, independente das baboseiras que cante ou de suas infelizes escolhas, ser exposta, execrada e pré-julgada pela mídia de banalidades. Como um produto descartável, que será sugado até sua extinção, sem causar a indignação dos inertes expectadores.
IV - O "espetáculo da vida real", que confina alguns jovens bem apessoados, numa competição para averiguar quem pode ser mais evasivo, fútil, hipócrita e dissimulado; de realidade não tem nada. A começar pela seleção dos candidatos. Os que se atrevem a expor-se, mostrando a face pobre, inculta, feia e equivocada do Brasil verdadeiro, bem como o nível de educação e cultura em que nos encontramos, são ridicularizados nos programas "Fantástico" e "Vídeo-Show" da Rede Globo, como aloprados que foram desclassificados e reconduzidos ao show de horrores que é suas próprias vidas. Os selecionados para a "real" competição, parecem recém-saídos de mini-séries americanas, com corpos modelados e caráter deformado, compondo uma nova leva de canastrões que serão aproveitados na sofrível programação da televisão, em revistas masculinas e eventos alienantes. A dúvida que persiste é onde o cidadão médio da população se vê naquele simulacro de vida real.
V - O estado de São Paulo - unidade federativa que mais prende, condena e encarcera do país - possui atualmente uma legião de aproximadamente 144.000 penitentes nos seus calabouços. Nos últimos seis anos (segundo fonte da agência Estado), a população carcerária do estado quase que dobrou, o que equivale a quase 800 presos por mês, ou a 1 detento por hora. Prá quê? Na teoria, um infrator deve ser julgado, e se condenado, cumprir sua condenação em regime de progressão de sua pena, ou seja, conforme vai sendo reeducado pelo estado, vai resgatando sua cidadania, passando do regime fechado, para o semi-aberto, e, consequentemente para o aberto. Na prática, nada disso pode ser levado em consideração. O condenado passa por um período de expiação do seu corpo e de sua mente, perde a noção de civilidade, passando a sobreviver em um micro-cosmo totalmente diverso de nossa sociedade regular, e sente a "vingança pública" travestida de ressocialização diariamente. Quando o estado decreta que o preso que tenha cumprido um 1/6 de sua pena, encontra-se no regime semi-aberto, e com bom comportamento - em tese tendo progredido - poderá sair provisioriamente da prisão e passar algumas datas importantes com seus familiares; a opinião pública entra em polvorosa. Para variar, apenas reportando casos isolados, sem discussão aprofundada. Ressalte-se, que essa saída ainda depende da análise dos órgãos públicos (prerrogativa da justiça), a qual deverá saber quem está preparado ou não para a reinserção social gradativa. Pois bem, vamos decidir corajosamente nossa posição: somos vingadores ou acreditamos na recuperação de quem supostamente delinquiu? Vamos optar por um lado e deixar cair o pano; e, é claro, assumirmos toda a responsabilidade pela involução de nossa existência!
Obs.: Neste último Natal, 17.968 presos com direito à saída provisória receberam esse benefício, sendo que 1.143 não voltaram para as prisões (144 unidades) do estado de São Paulo, o que equivale a 6,36% dos detentos, o mais baixo índice desde 2.002. (fonte Jovem Pan/UOL).
De fato, o ano se inicia com a impressão de que o ano anterior não acabou, e a luta pela sobrevivência vai sendo travada, sem sentirmos as "verdades" que - segundo a grande imprensa - mudarão as nossas vidas. "Feliz Ano Novo", ou melhor, "Feliz Ânimo Novo". Não esmorreçam, um abraço!