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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Seguro Desemprego


Uma discussão que ocorre por esses dias entre o Governo Federal e as principais Centrais Sindicais à respeito do seguro-desemprego, chama minha atenção pelo grau de cidadania (ou pela falta dela) em nossos dias, e como, às vezes, nos igualamos a quem tanto criticamos. As partes acima mencionadas pretendem elevar das atuais cinco para doze as parcelas a serem pagas a quem estiver desempregado. Porém, o Ministério da Fazenda, cumprindo com sua obrigação desanconselhou tal empreitada, alegando que o fundo que sustenta o seguro-desemprego deve apresentar déficit nos próximos anos, mesmo se mantidas as parcelas atuais. Ou seja - assim como a Previdência, esse serviço social também corre o risco de entrar em colapso futuramente. Recordamos com facilidade os tantos "assaltos" aos cofres da previdência, com seus "esquemas", "fantasmas", "Georginas" e tantos outros, e também do dinheiro imediato oferecido pelos governos quando instituições bancárias necessitam serem "salvas". Mas, surpreendentemente, quando trata-se de socorrer o trabalhador, os órgãos financeiros e econômicos cumprem seu papel de evitar um desajuste (muitas vezes motivados por fins eleitoreiros). Mas, por que razâo se omitem quando trata-se de evitar a quebra de um banco ou qualquer outra instituição econômica? Ou são silenciados à força pelo sempre coercitivo poder político, sempre altivo, poderoso, impune e livre de explicações pláusíveis. De certo, surgirão infindáveis explicações acadêmicas para os argumentos deste humilde blogueiro, mas - do alto de minha impaciência - darei as costas a todas elas. Se são tão sapientes em elucidar os nós da "coisa pública", resolvam essa equação para nós "coisas também públicas". Quanto custa pegar um ônibus, metrô, trem todos os dias para procurar trabalho; quanto tempo uma sola de sapato conserva se você o fizer à pé; e uma refeição entre uma procura e outra; e um curso de especialização; cópias de documentos; pagamentos para que seu curriculum fique por um tempo nos cadastros das agências de emprego; no aperitivo que você tomará para poder encarar sua família e mentir que está quase acertado em um emprego; na calça e camisa da promoção para parecer "apresentável ao novo empregador; etc? Nunca fui de "acender uma vela à Deus e outra ao Diabo", por isso, critico sempre qualquer conhecido que protela a entrega de sua Carteira de Trabalho" ao novo empregador, porque pretende receber as parcelas do seguro-desemprego (agregadas ao novo salário) mesmo estando empregado. Isso é falta de cidadania, e se igualar da mesma forma a quem te governa e privilegia os abastados em detrimento dos necessitados. Você que utiliza esta prática, não está levando nenhuma vantagem, pelo contrário, apenas enganando a si mesmo, porque o buraco meu irmão, é muito lá em cima. Um abraço!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Leonera


Com o filme "Leonera", o cineasta argentino Pablo Trapero não apenas produz uma bela obra, como - de maneira sutil (evita com sucesso qualquer possibilidade de denúncia) - consegue abordar temas ácidos, nos remeter à reflexão e desnudar de forma surpreendente o (muito parecido com o nosso) sistema carcerário feminino argentino. A história gira em torno de uma mulher que desperta cheia de sangue. Ela descobre que algo muito grave aconteceu em sua casa e dois homens (seu namorado e o amigo dele) se encontram desfalecidos e cheios de golpes de facas. Ela vai para a prisão, acusada de matar um deles. Mas está grávida e é encaminhada a um pavilhão somente para gestantes e detentas com filhos menores de quatro anos. No início, com uma gestação de aproximadamente três meses, tenta interromper a gravidez, porém, vai se acostumando com a idéia de conceber uma criança na cadeia, em situação higiênica precária e sem educação oficial. Com a ajuda de uma detenta que torna-se sua amiga e amante (Marta), a qual também cria suas crianças no presídio, desperta um incrível e comovente instinto maternal e luta com todas as forças para criar seu filho atrás das grades. Confesso que já assiti a inúmeros filmes sobre o sistema prisional masculino, a até o excelente documentário que aborda o cotidiano de mulheres de detentos nas horas que antecedem os dias de visita ("Do lado de fora"), porém, nunca a uma obra que retratasse com tanta perfeição e crueza o dia-a-dia de instituições prisionais femininas. A personagem principal, com o desenrolar da trama, passa pelos percalços e mazelas que todo indivíduo é submetido quando relegado ao vazio do cárcere (violência, depressão, falta de entendimento, abandono estatal, etc.), porém, o grande paradoxo para mim é a explicitação da suposta fragilidade feminina, confrontada com a solidariedade, resistência, perseverança... Imagino o universo feminino com suas alterações hormonais, cuidados especiais, em um ambiente prisional insalubre, gerando um filho ou cuidando do mesmo até os quatro anos de idade, para em seguida, cumprir uma ordem judicial e entregá-lo para a família ou instituição oficial. À época da instalação da CPI do Sistema Carcerário, escrevi em um post neste blog que temia pelo fracasso dos trabalhos parlamentares diante de tema tão delicado e carente de providências pontuais. E, de fato, apesar da exposição positiva dos absurdos jurídicos cometidos e da mera expiação dos supostos infratores às leis penais, o cerne do problema não foi sequer resvalado: qual o objetivo de nossa sociedade com o encarceramento em regime fechado de quem está sendo investigado ou fora condenado criminalmente? A prisão representa a total depressão dos direitos de um cidadão, e causa uma mácula irreversível à sua pessoa, e à estrutura de sua família, portanto, o motivo para tal constrangimento e violência deve vir agregado a um "caminhão" de motivos nobres, tais como os hipócritas e desgastados termos usados habitualmente: recuperação, reeducação, reinserção social, ressocialização, e outros "res". Neste exato momento, centenas de mulheres estão cumprindo suas penas nos calabouços estatais, algumas com suas barrigas salientes ou crianças à tira-colo. Independentes dos crimes que tenham cometido, quem as mantém em cruéis condições de sobrevivência sem propósitos reais de cidadania e civilidade, pela simplista justitificativa de "punir" (no sentido rasteiro da palavra) é tão ou mais criminoso quanto elas, pois, na maioria das vezes, tiveram melhores oportunidades e educação para esse dicernimento. Voltando à "ficção", um belo filme, com direito a um plano final de emocionar, e voltarmos nossos olhos para as mamorras femininas aqui de nossa terra, onde literalmente choram mães, filhos e quem presenciar aquela crueldade. Um abraço!
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Repito aqui a frase do meu post de 1º de março do ano passado, quando dos trabalhos da CPI do Sistema Carcerário: "É preciso julgar o grau de civilização de uma sociedade visitando suas prisões." (Dostoiévski).