Total de visualizações de página

terça-feira, 29 de setembro de 2009

PEC dos vereadores


(suplente de vereador reza durante votação da PEC)


Este homem da fota acima, vestido formalmente, em posição cristã-ocidental, instropectivo em seu agradecimento, estampando uma alegria incontida, é um suplente de vereador de uma comarca qualquer. Encontra-se na ocasião em pleno Congresso Nacional, e sua indisfarçável euforia explica-se pela aprovação da impopular "PEC (projeto de emenda constitucional, instrumento pelo qual altera-se a Constituição do Brasil em assuntos não classificados como cláusulas pétreas, imutáveis) dos vereadores". Pressume-se que sempre que a carta magna de um país for alterada; modificada; mexida ou habilmente violada - o que deveria ocorrer raramente - fosse em explícito, comprovado e irrefutável benefício da sociedade, e, em consequência, do cidadão comum. Evidentemente, não é  caso desse arranjo amparado em crescimento demográfico, o qual catastroficamente irá onerar os cofres públicos já tão usurpados. Muitas cidades brasileiras irão "ganhar" novos vereadores com tal aprovação. Hipócritas oportunistas vão dizer frente aos holofotes, que o número atual de vereadores, primeiros representantes em contato direto com a "epiderme social", é insuficiente para atender às necessidades dos citadinos. Puro engodo travestido de civilidade! A felicidade desse futuro edil aí da fotografia só se explicaria por um dos  dois supostos motivos: um irremediável êxtase em imaginar os projetos de lei que irá propor em plenário, quando empossado para um cargo que preparou-se muito para exercer abnegadamente em prol de uma parcela de sua comunidade, a qual irá "sentir-se" representada nos próximos anos; ou, uma irresponsável comemoração ao vislumbrar o cargo bem remunerado, que agrega poder ao patrimônio pessoal e financeiro de quem o exerce, com verbas injustificáveis de representação e outras "cosas" impublicáveis. Infelismente, sabemos que eleição transformou-se em "loteria", onde os apostadores marcam seus bilhetes nas urnas já sabendo que irão perder. E oportunistas lançam-se inconsequentemente na aventura excitante , ávidos pelo dinheiro público, com raríssimas exceções. Somente na semana passada filiaram-se a partidos políticos os seguintes nomes: Romário (PSB), o qual declarou estar contente em ingressar no "PSDB"; o "BBB Cléber Bambam", que declarou que o que mais o desagrada em política é a lavagem de dinheiro, já que tem tanta gente precisando; Edmundo (PP); Maguila (PTB); Vampeta (PTB); Popó (PRB); o ator Anfré Gonçalves (PMN); o cantor Sérgio Reis (PR); o cantor uruguaio "Gaúcho da fronteira (PTB)... Ressalto que qualquer cidadão pode e deve (se tiver convicção, boa intenção e coerência) pleitear um cargo político, não pretendo discriminar ninguém, porém, de "boas intenções" maquiando devaneios imorais, já estamos saturados. A atuação do vereador nos dias de hoje é deveras limitada, tanto pela parca matéria sobre a qual é permitido legislar; quanto pelos interesses escusos da maioria. Os Prefeitos, condutores vorazes da "máquina pública", encontram pouquíssima resistência em aprovar seus projetos. Com a "chave" dos cofres públicos nas mãos, formam bases de apoio enormes e desmontam as inconsistentes "oposições", com maneiras - digamos - misteriosas. De certa forma, trata-se da reedição do bi-partidarismo no Brasil, com a base aliada relembrando a antiga ARENA (o partido do sim); e a cambaleante oposição relembrando o MDB (o partido do sim, senhor!). Está difícil sentir a política nos dias atuais, até mesmo por parte dos partidos mais isentos. Um exemplo prático: O Psol - partido que respeito, mas não simpatizo - elegeu uma vereadora combativa e intelectualmente preparada nas eleições de 2004, a qual dentre incontáveis lugares, fez campanha em uma área periférica aqui da cidade de Campinas/SP. A grande maioria das casas em áreas pobres não possui documentação regular, escritura registrada, etc, quando muito, guardam registros de negócios feitos em cartórios impróprios, acreditando ter a posse de documento definitivo e legal. Um pequeno grupo dessa área de favela visitada pela candidata, relatou-me que procurou pela citada vereadora após sua eleição, mas conseguiu falar somente com seu educado assessor, o qual deu explicações plausíveis sobre a "incompetência" para poder solucionar o caso, o qual não era de sua alçada. Indignado, um dos moradoes esbravejou enquanto me relatava o fato: "a vereadora tomou café na minha casa na campanha, e agora não resolve nosso caso". Essas pessoas estão cansadas de explicações, querem ações, e que alguém lhes apontem o caminho e saiba mais sobre suas reais necessidades, além de meras formalidades e discursos vãos. Coincidência ou não, a vereadora não se reelegeu nas eleições seguintes. Um abraço!
_____________________________________________________________
Dia desses, caminhava com a companheira por um Shopping Center de Campinas, quando lembramos da necessidade dela adquirir um compasso para o estudo da Geometria. Dirigimo-nos às papelarias existentes no próprio shopping, para realizar a aquisição. Surpreendentemente, pelo menos para mim, nenhuma delas vendia tal utensílio. Patrícia apelou então para um esquadro, o qual a auxiliaria igualmente na tarefa. Em vão. Transferidor então, nem ouviram falar. Nas paredes das "papelarias" (inclusive uma grande rede) badulaques, futilidades, pequenos minos... Sorte de Gilberto Gil que cantou: "a Bahia já me deu, graças à Deus, régua e compasso..."         

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre dores e amores!



... Algumas pessoas que passaram em minha vida - de importâncias e em circunstâncias diferentes - eram unânimes em ressaltar uma pseudo qualidade: a facilidade em traduzir a vida, essa mesma, pessoal e cotidiana; desvelando tabus familiares; cauterizando feridas; aplacando mágoas indeléveis; explicitando a dor alheia; pontuando "pontos de vista" conflitantes, os quais alicerçam razões equivocadas que acreditamos ter. E, por essas "verdades absolutas", de que nos julgamos portadores, despendemos toda nossa força para sustentá-las, persistindo inconscientemente no erro, perpetuando a malquerença. O poeta indagou em uma de suas canções: "prá onde vai o amor, quando o amor acaba?" E respondeu complacentemente em outra composição: "...amores serão sempre amáveis!" Isso leva-nos a crer na consciência derradeira, em um sentimento superior e final, que - mesmo após fúrias, revanches, insanidades - poupará a consequência inocente do irresponsável ato de nos relacionarmos. Ressalto também, que apesar de outra expressão ser muito usada pelos poetas, a desprezo completamente. O (para mim) paradoxal clichê: "o amor e o ódio se irmanam". O ódio é excludente, frágil, egoísta, covarde e induz ao erro, e quase sempre, atinge somente quem o emana, particularmente, o ignoro! A dor que sinto, cortante, lenta e cotidiana, é a dor que divido com João Caetano. A mesma dor que atinge João Pedro. A que alcança Maria Clara e seu irmão com nome de poeta, o qual nem conheço. A dor que encontra amparo e se estanca nos frágeis ombros de Heitor, que nem sabe que carrega esse nome forte prá suportar e dividir com seu pai - mesmo inconscientemente - tudo o que a vida insiste em machucar lancinantemente, portando-se bravamente, citando o nome de seus irmãos, como se convivesse com os mesmos. Mas, quem irá traduzir a vida e "trazer à luz", espíritos opacos e obscurecidos. O poeta também disse: "... a dor da gente não sai no jornal". Um abraço!
_____________________________________________________________
Patrícia, se eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse o sonho dentro de mim, e vivesse na escuridão...  Obrigado!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Política, para mim!

(Suplicy, conversando com moradores da comunidade "Olga Benário")


...tenho grande temor quando vejo a maioria da população jovem do Brasil, ignorando e negligenciando a política, individualizando egoisticamente sua conduta, alienando-se em entretenimentos vazios, assistindo a tudo sem postura crítica, acostumando-se a escândalos e malversação do bem público, com lamentável apatia. Realmente não compreendo quando pessoas descrevem seu perfil no site de relacionamentos "Orkut", no item que questiona sua participação política, assinalando a opção "apolítico" (como se isso fosse possível), orgulhando-se e procurando eximir-se de qualquer culpa pelo mal andamento de nosso país. Admito que é muito difícil não desanimar e capitular frente a tantas más notícias, discursos demagógicos, práticas escusas. Nunca os políticos se pareceram tanto, e é raro destacar matizes que fujam do cinza dos nossos representantes em todas as instâncias. O ateniense Péricles discursou com orgulho aos seus concidadãos, após a guerra do Peloponeso: "Nós somos o único povo a pensar que um homem alheio à vida política, não deve ser considerado como um cidadão tranqüilo, mas como um cidadão inútil".

Escrevi as palavras acima, neste mesmo espaço, em fevereiro de 2008, em um texto intitulado "Política, prá que"? Apoio-me nelas para tentar justificar a recusa em não rabiscar sequer palavra sobre Sarney , crise das casas legislativas, etc... Agradeço aos elogios que chegaram em meu e-mail, agregados à pedidos de pronúncia sobre o tema acima citado. "Sapecar tinta" - expressão usada por um jornalista amigo - e escrever sobre o tema, parece-me redundante no momento. Seria apenas mais um a apontar o óbvio da roubalheira generalizada e herança colonial de usurpação do público pelo privado. Sinto-me mais útil tentando "sentir a política", não esmorrecer e não aliar-me a argumentos ingênuos e irresponsáveis sobre fechamento de casas legislativas, volta de ditaduras e outros desvarios. Prefiro, sinceramente, discutir em nível não especializado e relatar o que percebo como cidadão comum sobre política partidária, partindo de minhas próprias impressões e experiências pessoais. Tento responder para mim, os questionamentos que me chegam, tais como: o que vale à pena em política hoje em dia, para que serve eleições... Possuo um passado de fidelidade às minhas convicções políticas, sempre apoiei, debati e votei no mesmo partido político. Nunca lancei mão do "voto útil" mesmo para evitar que um mal caráter qualquer ganhasse alguma eleição. Mas sinto-me como o amigo, no belíssimo texto publicado por Roberto Barbato Jr., "Homem não chora", em seu blog "Lápis Impreciso":


Lembro-me de ter lido, no início da década de 1990, a entrevista de um jornalista que estava prestes a assumir um cargo público em São Paulo. Seu pai, àquela época já falecido, foi um comunista bastante ativo. Costumava dizer aos filhos (um dos quais, filósofo marxista) que quando alguma coisa estivesse errada, seria preciso olhar em direção ao Kremlin. Um dia, o jornalista resolveu romper com o comunismo. Abandonara as convicções que sempre deram sentido à vida do pai. Ideologicamente, distanciou-se dele e do irmão. Na entrevista, o tal jornalista contou que tivera um sonho bastante significativo a respeito de seu rompimento com as tendências de esquerda: num quarto branco, sóbrio, sem cores, ele levantava o pai pelo colarinho e gritava:- Você me enganou! Você me enganou!O pai, provavelmente ciente de que escolhemos ideologias por afinidades e devemos recusá-las quando desejamos, apenas respondeu:- Homem não chora! Homem não chora! Hoje, quando olho para trás, relembro minhas opções políticas sem arrependimento. Mas, quando vejo que os representantes que ajudei a eleger servem para perpetuar o que há de mais atrasado na política brasileira e ainda reivindicam o monopólio da moralidade pública, confesso que tenho vontade de chorar. É nessas horas que lembro da lição do velho comunista: homem não chora!


Acho esse texto elucidativo o bastante, o que dispensa maiores explicações. Então, voltemos para o que se tornou a política atual depois do fim das ideologias, dos partidos políticos independentes, da fidelidade partidária sem ameaça judicial, das discussões escrupulosas e utópicas, das formações de careteres juvenis, etc. Percebo a política atual como mera troca de interesses escusos; más intenções; aplicação de meios injustificáveis e inaceitáveis para atingir fins, deixando um rastro de sujeira no meio do caminho. Tudo foi nivelado pelo mais rasteiro patamar, dos representantes públicos ao eleitorado. A sensação que posso compartilhar é a de que tudo se individualizou, os membros de nossa comunidade buscam uma recompensa pessoal para cada ato. A contrapartida que cada um exige para qualquer atitude que transpasse os limites de sua residência é egoísta e limitada, uma sociedade de consumo que perdeu o freio e desce ladeira abaixo rumo ao interesse escuso. Nas últimas eleições municipais fui procurado por uma candidata à vereadora que - incensando meu conhecimento político - pediu o meu apoio em sua campanha. Não me fiz de rogado e firmei uma permuta, à moda da política moderna, e pedi subsídios para um projeto social que almejo realizar há tempos, em troca do tal apoio. Andei por todos os bairros da cidade de Campinas, e a experiência foi enriquecedora. Conversei com pessoas de todos os níveis por cerca de quatro meses e atesto que a visão política atual individualizada é desconhecida do público em geral. As pessoas não têm convicções claras de representação política e não se sentem representadas de fato por ninguém. Votam por pequenos mimos; por escracho; para ver alguém pobre e humilde prosperar; por se enganar quanto à trajetória e caráter de postulantes que o marketing político encobre habilmente; por culto à pseudo celebridades; e raramente, por certeza da representação satisfatória. Porém, apesar desses equívocos o povo permanece sábio, e no fim das quase infindáveis e gratificantes conversas eu ouvia o insofismável argumento de que qualquer um que caísse no "ninho de serpentes" das casas legislativas, não teriam força para mudar sozinhos o status quo. Poderia ficar por horas relatando experiências sobre essa empreitada e constatando que, no "acomodar das abóboras" o povo está cansado de engodos, e desgastado demais com tanta decepção. Contudo, particularmente, continuo persistindo, acreditando no imponderável, aliando utopia com coisas concretas, buscando o equilíbrio de forças. Há alguns dias, uma favela da zona sul paulistana foi desapropriada e as famílias foram literalmente jogadas ao relento. O escritor Ferréz iniciou uma luta inglória para viabilizar alento àquelas pessoas (o que pode ser melhor relatado em seu blog, "linkado" aí ao lado), e, buscando todo tipo de ajuda possível, telefonou para o senador Eduardo Suplicy, o qual chegou ao local em 40 minutos, dirigindo um veículo FIAT/DOBLÔ, fazendo os desalojados "sentirem" a política da forma como sinto atualmente. Da única forma que interessa e vale à pena, "lutando contra o Leviatâ", e levando conforto a quem precisa. O resto é desprezível e vil, como todo mundo já conhece. Um abraço!




quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Contadores de histórias



Há poucos dias (exatamente há dez dias) completei os emblemáticos 40 anos de vida, e dentre reflexões, pensamentos, melancolias, agradecimentos e afins, percebi que realmente o espírito torna-se mais maleável com o conhecimento adquirido ao longo dos anos, e as costas calejam, invariavelmente, com as "pancadas da vida". Justamente em meio a esses desvarios, defronte ao painel que indicava as opções de minha arte preferida, resolvi dar uma chance ao "mago", pelo qual nutri uma antipatia intrinsica por anos. Explico, chamou-me a atenção o título do filme "Verônika decide morrer", mas quando li a sinopse e atentei-me para o fato da película ser uma adaptação de um livro do badalado Paulo Coelho, fui acometido por uma "catatonia" instantânea. Recordando a data festiva (40) e o desgastado brocardo: "a vida começa aos quarenta", decidi por de lado um suposto preconceito, ignorar uma intuição inata que repele os oportunistas e relembrar algumas composições que o "alquimista" fez em parceria com o ídolo de sempre Raul Seixas, e aceitei o desafio. Ao final do filme, conclui que se Veronika decidir morrer, realmente morrerá: de tédio. O velho "dom Paulete", como se referiu um dia Raul Seixas ao seu amigo continua o mesmo das colunas sobre fábulas - quase sempre orientais - com seus finais felizes que invariavelmente nos remete ao redundante moral da história... que publica em alguns jornais. Soube ao sair do cinema que este filme foi indicado a uma categoria do Oscar americano (só poderia ser mesmo), e aumentei minha indignação. A obra trata-se de uma armadilha de clichês e más interpretações, atenuados pela beleza da protagonista Sarah Michelle Gellar, que desponta em meio ao feio e evidente lugar comum da previsibilidade. Reflito sobre a quantidade de livros vendidos por Paulo Coelho; do seu sucesso na Europa e Estados Unidos; de sua petulância em postular um lugar na Academia Brasileira de Letras, mas, resigno-me frente aos fatos. Não tem como negligenciar o momento de carência, medo e ignorância pelo qual a sociedade contemporânea atravessa; e à lembrança de que José Sarney assenta seu traseiro em uma das cadeiras da ABL (embasado por seus "Marimbondos de Fogo"), onde já sentou-se Machado de Assis. Também assisti na semana passado ao filme "O contador de Histórias", que aborda a vida de Roberto Carlos Ramos (foto acima), o qual - por uma singela ingenuidade de sua genitora - passou a infância na famigerada FEBEM, e só teve sua tragetória de desventuras e agruras modificada por cruzar - em um momento de sua vida - com a francesa Margherit Duvas, que o alfabetizou e o levou para a França, de onde voltou para ensinar na própria FEBEM, e tornar-se, porteriormente, o maior contador de história do mundo. Esse filme - se comparado ao adaptado do livro do "mago" tinha tudo para cair no oceano de clichês, porém, sobrevive com galardia, e nos oferece uma obra com recursos lúdicos que descrevem com leveza, uma trama tão ácida. Essa, ao meu ver, é a diferença entre contadores de histórias e contos-do-vigário (ou do mago). E saber diferenciá-los (apreciá-los ou repelí-los) vai da ótica e intenção de cada um. No final do filme "Verônica decide morrer" um psiquiátra desvela toda a saturada trama ao revelar que mentiu sobre uma suposta doença terminal que a protagonista acreditava ter. Mentiu para que ela desse o verdadeiro valor a cada dia de sua vida e o vivesse como se fosse o último. Não precisava faltar com a verdade, à moda do mago, para dar o devido valor à vida, bastava mergulhar no universo dos adolescentes da FEBEM, como fez a francesa na vida de Roberto Carlos Ramos, denotando assepcia e dignidade à obra e à própria vida, atitudes tão em falta no nosso cotidiano. Um abraço!





quinta-feira, 9 de julho de 2009

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia!


Há aproximadamente quinze dias, foi noticiado nos jornais "Correio Popular" e "Diário do Povo" de Campinas/SP o seguinte acontecimento: um morador de rua foi agredido violentamente por um estudante de medicina (o qual estava acompanhado por mais dois amigos e fugiu logo após a covardia, em um veículo AUDI/A3), na saída de um shopping, porque - segundo o próprio agressor, ele não gostou do modo como o pedinte olhou para ele. Posteriormente localizado e encaminhado a uma Delegacia de Polícia, o estudante "esclareceu" que cometeu o ato de selvageria porque aquele mendigo "não acrescentaria nada à sociedade, no futuro", sendo liberado em seguida. Recordo-me de um providencial texto de Marina Colassanti, intitulado "Uma Crônica", o qual nos desperta para o fato de que a gente se acostuma a certos acontecimentos em nossa vida, mas não deveríamos. As reiteradas notícias padronizadas que nos chegam sobre esse tipo de canalhice (do índio Galdino - confundido com um mendigo - queimado em Brasília; à empregada doméstica violentamente espancada no Rio de Janeiro - segundo seus agressores - confundida com uma prostituta), são sempre protagonizadas pelos filhos da classe média alta, motivados pelo mesmo desprezo aos seres humanos menos favorecidos. Assistimos ao noticiário, ficamos estarrecidos por alguns minutos e voltamos ao nossos afazeres, aguardando à próxima novidade macabra. Relegamos a gravidade dos atos cometidos por esses biltres à fatos corriqueiros e continuamos injustos, nos tornando insensíveis. Façamos um exercício de reflexão e desconstrução das notícias frias e superficiais contadas pela grande imprensa sobre esses inaceitáveis crimes cometidos e tratados como "curiosidade", à partir desta agressão ocorrida aqui em Campinas. O referido shopping está instalado em uma área nobre, e é frequentado por pessoas abastadas que tiveram as melhores oportunidades (estudo particular; convênio privado de plano saúde; boa alimentação; segurança pública que funciona...). O estudante agressor frequenta uma faculdade de medicina pública de alta qualidade - onde as pessoas bem nascidas acima citadas têm acesso. Os mais pobres pagam por faculdades privadas de qualidade questionável (comprovadamente inferiores às públicas) e ainda seus impostos, os quais sustentam a universidade pública do playboy. Depois de medicado, apurou-se que o suposto mendigo agredido adentrou a pararia do shopping, consumiu e pagou com cartão de débito, apresentando inclusive ticket comprobatório. Falando um pouco de sua vida afirmou que frequentou até o quarto ano de direito em uma faculdade privada de ensino superior, não a concluíndo por falta de recursos. O beócio estudante de medicina, assim que se formar, certamente trabalhará em hospitais públicos ou em alguma clínica - da profusão de convênios médicos menores - que visam as classes "C" e "D", agora interessantes pelo recente poder de compra adquirido, atendendo justamente a pessoas que - segundo ele - "não acrescentarão nada a sociedade futuramente". O crime de lesão corporal dolosa (a agressão) será apurado pelo Distrito Policial da área, onde cabe outra reflexão. Até alguns anos atrás, Campinas possuía doze distritos policiais, e estudos para a eminente instalação de outros para suprir a carência de segurança pública. Áreas carentes como a região do Jd. São Marcos e do Terminal Campo Grande seriam as próximas beneficiadas pelo governo estadual, existindo até uma frágil iniciativa da instalação de uma delegacia na primeira área citada, mais precisamente no bairro "Recanto da Fortuna", até hoje não concluída. Os mais abastados se "anteciparam" e viabilizaram a instalação do 13o. Distrito Policial no coração da área nobre, a qual inclui o tal shopping, e a casa do playboy agressor, em detrimento da eterna espera dos mais pobres das áreas críticas e violentas. Abstraindo a inconsistência do argumento, e tentando enxergar pelo prisma do descelerado estudante de medicina, ignorando que um mendigo é ser humano, que as pessoas merecem respeito, e outros "ensinamentos" que certamente recebeu de seus pais; imaginemos o mesmo fato invertendo os personagens. O "mendigo" seria execrado publicamente, condenado pela justiça e pela opinião pública, e o fato teria uma repercussão bem maior que a atual. Órgãos de imprensa bradariam que a vilência estaria atingindo níveis alarmantes, que isso não poderia continuar acontecendo, e comandantes da força policial seriam entrevistados. É pertinente citar que a revista "Caros Amigos", do mês de maio/2009, tráz como matéria de capa, uma reportagem sobre "Por que a justiça não pune os ricos" (pág.13). Para auxiliar e enriquecer nosso debate, reproduzo um trecho que explicíta a opinião do juiz criminal Sérgio Mazina sobre o tema: "... a justiça brasileira é constituída para não ser popular. Em sua avaliação, desde a formação da legislação, há uma preocupação muito maior com a preservação patrimonial em detrimento da integridade física. Isso constribui para a criminalização das camadas mais baixas da população, mais propensas - por sua condição social - a cometerem delitos contra o patrimônio. O Código Penal Brasileiro criminaliza a pobreza". Colassanti, ainda diz em seu belo texto: "A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto se acostumar, se perde de si mesma! Um abraço!

domingo, 28 de junho de 2009

Michael


Lembro-me de um trecho do livro "Pergunte a quem conhece", do rapper Thaíde, onde o mesmo relata sua trajetória, e um determinado momento especial que se sucedeu em sua pré-adolescência. Thaíde nos remete a um dia de total letargia onde assistia televisão descompromissadamente em seu barraco, ao lado da família, quando inesperadamente surgiram na tela do humilde televisor, alguns negros americanos dançando uma dança esquisita (break), no programa do jornalista Goulart de Andrade. Desse dia em diante, passou a frequentar a estação do metrô "São Bento" em São Paulo, a imitar os dançarinos e a buscar avidamente mais informações sobre o hip-hop. Nunca mais parou, tornando-se um dos ícones da cultura periférica brasileira. Recordo-me deste fato porque foi de forma muito parecida que tive o mesmo contato inicial com o maior ídolo pop da minha geração. Tudo o que "apreendíamos" era através da televisão, numa remota pré-adolescência no interior paulista. Numa madrugada perdida, ainda criança, assiti a um filme melodramático, sobre a amizade de um garoto com um ratinho, só para ouvir a musica Ben de Michael Jackson. E, anos mais tarde - no início dos anos 80, surge aquele cara cantando afinadamente e dançando de forma surpreendente. Eram tempos pós "Panteras Negras", de uma incipiente fase do genuíno ritmo funk soul, com os concursos de equipes de danças, e posteriormente a chegada do break . Michael, de forma contundente, limpou, lustrou e agregou assepcia àquela irreverente maneira de expressão, transformando os vídeos-clipes (massantes e relegados a 2ª classe de divulgação) à arte final dos discos em vinil recém-lançados. Desde os 8 anos de idade, Michael dirigia seus irmãos na imperdível obra do grupo Jacksons Five, e no auge de sua carreira nos levou ao êxtase com trabalhos como Thriller, Beat it, Billie Jean, etc. Era também o autor da música We are The World, tema de um clip estrelado por vários artistas americanos. Sua obra e seu talento eram incontentáveis, e poderia ficar por horas citando genialidades do cantor, compositor e dançarino - que criava coreografias e não perdia o frescor da música negra contundente e contagiante. Para mim foi uma perda irreparável (não como força de expressão, pois todas as perdas são irreparáveis), mas com convicção de que certas figuras não deveriam sair do nosso meio nunca. Atentem-se para o paradoxo de que certas figuras tachadas como desajustadas, trazem o equilíbrio necessário para a nossa vida em sociedade. Particularmente, até me irritava com algumas declarações de Clodovil Hernandes, mas, em contrapartida, adorava quando ele - às vezes ingenuamente - dizia verdades que não temos coragem de dizer, ainda mais em plenário, como a irrefutável de que Maluf é ladrão. Renato Russo declarou em um momento de maturidade que viver nosso momento cultural era deveras pesado para ele, e nos deixou dezenas de reflexôes em forma de letras musicais. Cazuza levou uma curta, intensa e conturbada vida, e mais nos ajudou do que foi feliz, ao retirar por vezes o manto da hipocrisia que nos cobre e nos abafa. Como não associar os dramas pessoais de Jackson, com a questão do racismo, cruel e excludente, que canalhas não cansam de ignorá-la. A imprensa mundial desconstruiu a imagem do ídolo com inúmeras exposições de sua vida pessoal e suas excentricidades (a famosa bolha onde instalou-se por alguns dias; a tentativa de congelamento; as acusações de pedofilia; a mutilação do próprio corpo; os casamentos; os filhos; etc.), porém, não resvalaram na infância sofrida, na sociedade americana que avassala a vida dos mais sensíveis, que não têm tanta estrutura para suportar. Michael, não gostava de sua imagem, tinha obcessão por embranquecer sua pessoa, e segundo familiares, tinha dificuldade em olhar-se no espelho. Não era louco, e sim vítima de uma cultura de massa que cultua o branco, o clean. Talvez não tivesse a consciência que os anos 80 foram anos difíceis para afro-descendentes, e que sua música contribuiu muito para superá-los, e começar a resistência no início dos 90 com o rap do Racionais, Thaíde e suas consequências. Gilberto Gil cantou: "Bob Marley morreu, porque além de negro era judeu; Michael Jackson ainda resiste, porque além de branco ficou triste!" Não mais, Michael, descanse em paz! Um abraço!

terça-feira, 3 de março de 2009

Capitães da Areia


Neste final de semana passado, li o livro "Capitães da Areia", do escritor Jorge Amado. Não consegui parar de lê-lo desde as primeiras linhas. É impressionante como essas coisas se repetem em minha vida, sempre que tudo "está que é só escombros", alguma idéia ou boa leitura aparece como por encanto e me arrebata, levando à reflexão. Por mero acaso esse livro veio parar em minhas mãos. Veio através de minha mulher Patrícia, uma legítima "Capitã da Areia", que certamente não tinha a consciência da obra que carregava. Lera apenas as trinta e seis páginas iniciais e dissera-me com convicção: "estou achando esse livro a sua cara". Como não tenho conseguido dormir regularmente, cerrei os sentidos para as maldades cotidianas, para a fome e para a desesperança, e degustei o citado livro até o final, com um inevitável "nó na garganta". Um turbilhão de lembranças me acompanharam durante a leitura, numa estranha catarse. Lembrei-me da infância difícil e rude dos meus pais; das injustiças sociais; do poder infindável das elites e seu aparato para manter tudo obtuso como está, há séculos, nessa nossa iniqua e desleal sociedade. Lembrei-me do terrível percalço que se passou comigo, e de como me fechei para tudo que estava desmoronando (perda de trabalho, de minha casa, de minha dignidade) e escrevi meu livro em seis meses, porque segundo Clarice Lispector: existe o direito ao grito! Lembrei-me da vocação de minha irmã mais velha para a justiça social. De quando ela leu esse mesmo livro, há aproximadamente vinte e cinco anos atrás - o qual deve estar até hoje na estante da casa de meus pais - e ficou radiante, com o ímpeto de querer mudar alguma coisa, com a excitação e alegria que os livros sempre trouxeram a ela.
Não sei explicar o motivo, talvez seja pela comodidade de conhecer sua obra através das adaptações para cinema e televisão ("Gabriela Cravo e Canela"; A morte e a morte de Quincas Berro-D´água"; "Dona Flor e seus dois maridos"; "Tenda dos milagres"; "Tereza Batista cansada de guerra"; "Pastores da noite"...), mas o fato é que eu nunca tinha lido um livro do escritor Jorge Amado. Recordei-me de alguns velhos comunistas como Niemayer, Kfouri e o próprio Jorge Amado, e seus nobres ideais. Dos meus amigos petistas pré-poder, verdadeiros revolucionários, e seus desencantos com a política atual. E de como as relações humanas tornaram-se mesquinhas, oportunistas e sórdidas. Como pode, em uma sociedade que supostamente evoluiu e aperfeiçoou-se, os problemas, mazelas, negligências, injustiças, vilanias, hipocrisias e descasos sociais abordados nesta bela obra escrita em 1937, estarem tão atuais. Não sou excessivamente religioso, mas é até compreensível a sucessão de tragédias que mancham os noticiários diariamente. Chega a provocar náusea a encenação política em todas as esferas do poder público; a letargia do "populacho" cada vez mais alienado pelos órgãos de imprensa e entretenimento; e a mera catalogação de tudo isso pelos pesquisadores acadêmicos, no mundo universitário apartado da realidade. Existe nesse momento, uma legião de menores abandonados nas ruas das cidades brasileiras. Cruzamos com eles todos os dias. Nossa sociedade hoje é mais grave e mais complicada. Negligenciamos demais nossas crianças e é inimaginável uma solução imediata e eficáz. Pode parecer clichê para alguns, mas o problema está aí, e as consequências são diárias. Os poucos "Capitães da Areia" que conseguiram algum alento para suas vidas na ficção, hoje fracassariam. Quem manda é o mercado, o qual comprou o sindicato, o partido político, as artes, e enquadraria até o bando do temido cangaceiro "Lampião", que no livro é um verdadeiro herói para um dos meninos penitentes e abandonados.
No final do livro, Zélia Gattai (mulher de Jorge Amado), confidenciou que o autor, quando escreveu essa obra, foi dormir com os meninos no trapiche para conhecer os detalhes e adquirir um "olhar de dentro". Falta-nos comprometimento e coragem. Fiquemos com os vagos discursos. Um abraço!
_____________________________________________________________
Patrícia, terminei de ler o livro meu amor, queria lê-lo para você, que é uma verdadeira "Capitã da Areia", minha guerreira! Nada é justo nesse mundo. Dá até medo de viver. Tá tudo dominado pelas elites, e nossa chance é mínima. Somos mais que tudo isso, mas, não basta. Te amo!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Seguro Desemprego


Uma discussão que ocorre por esses dias entre o Governo Federal e as principais Centrais Sindicais à respeito do seguro-desemprego, chama minha atenção pelo grau de cidadania (ou pela falta dela) em nossos dias, e como, às vezes, nos igualamos a quem tanto criticamos. As partes acima mencionadas pretendem elevar das atuais cinco para doze as parcelas a serem pagas a quem estiver desempregado. Porém, o Ministério da Fazenda, cumprindo com sua obrigação desanconselhou tal empreitada, alegando que o fundo que sustenta o seguro-desemprego deve apresentar déficit nos próximos anos, mesmo se mantidas as parcelas atuais. Ou seja - assim como a Previdência, esse serviço social também corre o risco de entrar em colapso futuramente. Recordamos com facilidade os tantos "assaltos" aos cofres da previdência, com seus "esquemas", "fantasmas", "Georginas" e tantos outros, e também do dinheiro imediato oferecido pelos governos quando instituições bancárias necessitam serem "salvas". Mas, surpreendentemente, quando trata-se de socorrer o trabalhador, os órgãos financeiros e econômicos cumprem seu papel de evitar um desajuste (muitas vezes motivados por fins eleitoreiros). Mas, por que razâo se omitem quando trata-se de evitar a quebra de um banco ou qualquer outra instituição econômica? Ou são silenciados à força pelo sempre coercitivo poder político, sempre altivo, poderoso, impune e livre de explicações pláusíveis. De certo, surgirão infindáveis explicações acadêmicas para os argumentos deste humilde blogueiro, mas - do alto de minha impaciência - darei as costas a todas elas. Se são tão sapientes em elucidar os nós da "coisa pública", resolvam essa equação para nós "coisas também públicas". Quanto custa pegar um ônibus, metrô, trem todos os dias para procurar trabalho; quanto tempo uma sola de sapato conserva se você o fizer à pé; e uma refeição entre uma procura e outra; e um curso de especialização; cópias de documentos; pagamentos para que seu curriculum fique por um tempo nos cadastros das agências de emprego; no aperitivo que você tomará para poder encarar sua família e mentir que está quase acertado em um emprego; na calça e camisa da promoção para parecer "apresentável ao novo empregador; etc? Nunca fui de "acender uma vela à Deus e outra ao Diabo", por isso, critico sempre qualquer conhecido que protela a entrega de sua Carteira de Trabalho" ao novo empregador, porque pretende receber as parcelas do seguro-desemprego (agregadas ao novo salário) mesmo estando empregado. Isso é falta de cidadania, e se igualar da mesma forma a quem te governa e privilegia os abastados em detrimento dos necessitados. Você que utiliza esta prática, não está levando nenhuma vantagem, pelo contrário, apenas enganando a si mesmo, porque o buraco meu irmão, é muito lá em cima. Um abraço!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Leonera


Com o filme "Leonera", o cineasta argentino Pablo Trapero não apenas produz uma bela obra, como - de maneira sutil (evita com sucesso qualquer possibilidade de denúncia) - consegue abordar temas ácidos, nos remeter à reflexão e desnudar de forma surpreendente o (muito parecido com o nosso) sistema carcerário feminino argentino. A história gira em torno de uma mulher que desperta cheia de sangue. Ela descobre que algo muito grave aconteceu em sua casa e dois homens (seu namorado e o amigo dele) se encontram desfalecidos e cheios de golpes de facas. Ela vai para a prisão, acusada de matar um deles. Mas está grávida e é encaminhada a um pavilhão somente para gestantes e detentas com filhos menores de quatro anos. No início, com uma gestação de aproximadamente três meses, tenta interromper a gravidez, porém, vai se acostumando com a idéia de conceber uma criança na cadeia, em situação higiênica precária e sem educação oficial. Com a ajuda de uma detenta que torna-se sua amiga e amante (Marta), a qual também cria suas crianças no presídio, desperta um incrível e comovente instinto maternal e luta com todas as forças para criar seu filho atrás das grades. Confesso que já assiti a inúmeros filmes sobre o sistema prisional masculino, a até o excelente documentário que aborda o cotidiano de mulheres de detentos nas horas que antecedem os dias de visita ("Do lado de fora"), porém, nunca a uma obra que retratasse com tanta perfeição e crueza o dia-a-dia de instituições prisionais femininas. A personagem principal, com o desenrolar da trama, passa pelos percalços e mazelas que todo indivíduo é submetido quando relegado ao vazio do cárcere (violência, depressão, falta de entendimento, abandono estatal, etc.), porém, o grande paradoxo para mim é a explicitação da suposta fragilidade feminina, confrontada com a solidariedade, resistência, perseverança... Imagino o universo feminino com suas alterações hormonais, cuidados especiais, em um ambiente prisional insalubre, gerando um filho ou cuidando do mesmo até os quatro anos de idade, para em seguida, cumprir uma ordem judicial e entregá-lo para a família ou instituição oficial. À época da instalação da CPI do Sistema Carcerário, escrevi em um post neste blog que temia pelo fracasso dos trabalhos parlamentares diante de tema tão delicado e carente de providências pontuais. E, de fato, apesar da exposição positiva dos absurdos jurídicos cometidos e da mera expiação dos supostos infratores às leis penais, o cerne do problema não foi sequer resvalado: qual o objetivo de nossa sociedade com o encarceramento em regime fechado de quem está sendo investigado ou fora condenado criminalmente? A prisão representa a total depressão dos direitos de um cidadão, e causa uma mácula irreversível à sua pessoa, e à estrutura de sua família, portanto, o motivo para tal constrangimento e violência deve vir agregado a um "caminhão" de motivos nobres, tais como os hipócritas e desgastados termos usados habitualmente: recuperação, reeducação, reinserção social, ressocialização, e outros "res". Neste exato momento, centenas de mulheres estão cumprindo suas penas nos calabouços estatais, algumas com suas barrigas salientes ou crianças à tira-colo. Independentes dos crimes que tenham cometido, quem as mantém em cruéis condições de sobrevivência sem propósitos reais de cidadania e civilidade, pela simplista justitificativa de "punir" (no sentido rasteiro da palavra) é tão ou mais criminoso quanto elas, pois, na maioria das vezes, tiveram melhores oportunidades e educação para esse dicernimento. Voltando à "ficção", um belo filme, com direito a um plano final de emocionar, e voltarmos nossos olhos para as mamorras femininas aqui de nossa terra, onde literalmente choram mães, filhos e quem presenciar aquela crueldade. Um abraço!
_________________________________________________________

Repito aqui a frase do meu post de 1º de março do ano passado, quando dos trabalhos da CPI do Sistema Carcerário: "É preciso julgar o grau de civilização de uma sociedade visitando suas prisões." (Dostoiévski).